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Entidades da agricultura e da pesca criticam troca frequente de ministros
Na segunda, toma posse o quarto ministro em cada um dos dois ministérios. Para governo, apesar das trocas, programas ‘não tiveram descontinuidade’.
Entidades representativas dos setores da pesca e da agricultura ouvidas pelo G1 reclamaram das sucessivas trocas de ministros nas pastas responsáveis por essas áreas. Na segunda-feira (17), tomará posse o quarto ministro em cada um dos dois ministérios desde o início do governo Dilma Rousseff, em 2011.
Nenhum dos outros 37 ministerios sofreu tantas mudanças. No total, houve 35 trocas de ministros em 23 pastas durante o governo Dilma. Dos atuais 39 ministérios, somente em 16 os ministros são os mesmos desde o início da atual administração ou desde que as pastas foram criadas (veja lista ao final desta reportagem).
Associações, sindicatos e federações argumentam que as frequentes trocas de comando na Agricultura e na Pesca têm efeito negativo porque, segundo as entidades, geram instabilidade, descontinuidade administrativa, interrupção de programas e alteração das diretrizes para o setor.
Na última quinta-feira (13), em continuidade à reforma ministerial provocada pela saída de ministros que concorrerão na eleição deste ano, o Palácio do Planalto anunciou seis novos ministros que tomarão posse na segunda-feira (17), entre os quais os da Agricultura e da Pesca.
Na Agricultura, passaram pelo ministério desde 2011 Wagner Rossi, Mendes Ribeiro, Antônio Andrade e agora Neri Geller. Na Pesca, comandaram o ministério durante o governo Dilma Ideli Salvatti, Luiz Sérgio e Marcelo Crivella. Eduardo Lopes assumirá na segunda-feira.
Em nota emitida após questionamento do G1, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República afirmou que “a exemplo do Ministério da Pesca, os programas no Ministério da Agricultura não têm e não tiveram descontinuidade em função da troca de ministros”.
Agricultura
Na avaliação da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), as sucessivas trocas de comando no ministério podem provocar prejuízo para o agronegócio, mas, para ela, o novo ministro, Neri Geller, é “experiente” e se mostra disposto a atuar como parceiro das entidades do setor.
“Tem, sim, algum tipo de prejuízo sempre que há uma troca no comando de um ministério. As mudanças sucessivas, não podemos dizer que são totalmente boas. Pode, talvez, trazer algum tipo de atraso nos projetos do ministério, ou entrar um novo projeto, e a mudança afetar os demais”, disse a parlamentar.
Para a senadora, no entanto, há serviços já consolidados que não sofrem alteração mesmo com a entrada de um novo chefe na pasta. “O que nos alenta é que temos no serviço público técnicos que tocam bem o ministério […]. A questão da defesa agropecuária, por exemplo, há regras e normas que independem de ministro. E é isso que movimenta o agronegócio em termos de funcionamento e regulamento”, concluiu.
Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Junqueira, as trocas “prejudicam” a relação entre o governo e as entidades representativas do setor. Na opinião dele, o novo ministro, Neri Geller, deverá ter “respaldo político” para comandar a pasta.
“As trocas prejudicam a relação do setor com o governo. Tem-se usado o ministério como moeda de troca e isso tem impedido a superação dos desafios que nós temos no campo. (…) É uma preocupação muito grande. Eu espero que o novo ministro, que é uma pessoa que conhece o setor, sob ponto de vista do que está sendo desenvolvido no Brasil, tenha respaldo político no ministério”, disse.
O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Carvalho, disse que as trocas são “prejudiciais”, mas elogiou Geller. “As trocas foram trocas políticas, de políticos, e, pela primeira vez, surge alguém que tem perfil ligado à agricultura, só que, infelizmente, no fim do governo”, disse.
Na avaliação do presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, as mudanças no Ministério da Agricultura não geraram dificuldade para o desenvolvimento de ações da entidade junto ao governo.
“A Farsul sempre teve bom diálogo com o ministério e pronta aceitação das propostas que nós levamos. O Rio Grande do Sul passou por um momento em que perdemos mais de seis milhões de toneladas de soja, mas, em seis meses, já estávamos com a lavoura toda replantada com qualidade, justamente porque contribuímos com o governo e o governo deu espaço para buscar soluções”, disse.
Para o presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, as trocas de comando do ministério, “em tese”, prejudicam o setor, mas ele elogiou a escolha do novo ministro.
“Sobre o planejamento estratégico [da entidade], depende de quem vai assumir. Em tese, sim, prejudica, mas, na prática, quando você coloca alguém que conhece do assunto, sabe quais são as necessidades do setor, não”, afirmou.
O assessor econômico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Carlos Augusto Albuquerque, as trocas “não prejudicam” o setor, mas são “entrave” para o desenvolvimento. (G1)
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