O menino Pedro Eduardo Cuba, nove anos, é a primeira criança de Caxias do Sul a ser aceita na Associação Mensa Brasil. A entidade é representante oficial da Mensa Internacional, conhecida por ser a principal organização de alto quociente de inteligência (QI) no mundo. Além dele outros dois caxienses integram a associação. Os pais do caxiense, o administrador de empresas, Nelson Cuba, 38, e a advogada, Viridyana Regis Silva Cuba, 41, encaminharam um laudo de teste de inteligência que é aceito pela Mensa. A entidade explica que crianças e adolescentes só entram na associação mediante apresentação e aprovação de laudos oficiais e reconhecidos pelo Conselho Federal de Psicologia.
Cerca de 300 crianças e adolescentes foram identificados pela organização no Brasil como superdotados. Segundo mapeamento da associação, o estado de São Paulo lidera o ranking dos menores de 17 anos já identificados com superinteligência, num total de 109. Em seguida estão Rio de Janeiro, com 37, e Minas Gerais, com 32.
Em 2022, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Caxias identificou 16 crianças com altas capacidades ou superdotação no município. A realidade é que muitas outras crianças podem não ter sido identificadas com superinteligência, não ter tido acesso ao disgnóstico ou ter tido um diagnóstico equivocado.
O presidente da Mensa Brasil, Rodrigo Sauaia, destaca que o Brasil é uma potência intelectual ainda adormecida e subaproveitada:
— Temos uma das maiores populações do planeta. Cerca de 2% dos habitantes do Brasil podem apresentar sinais de altas habilidades, com um QI muito acima da média. Porém, ainda não há um mapeamento abrangente destes indivíduos —afirma ele.
QI de 150
Não é à toa que Pedro integra a Mensa. O menino tem QI de 150, o que é considerado alto para o país. Segundo a doutora em Educação e Superdotação e neuropsicopedagoga especialista na avaliação de superdotados, Olzeni Ribeiro, cada país estabelece parâmetros de QI conforme alguns fatores específicos da população. Por exemplo, Estados Unidos (98), China (108) e Brasil (83). 68% da população se situa entre o QI 80 a 115.
— Em escalas de classificação internacional, acima de 140 é considerado inteligência muito superior ou níveis de superdotação mais profundos o que significa, no caso das crianças, um prognóstico para uma grande realização futura. Então, 150, para o Brasil é um QI raro. Como a superdotação é uma condição genética, há crianças que ainda na gestação dão sinais fora da curva e os pais não sabem identificar, como, por exemplo, já responder a estímulos externos: corresponder ao ritmo de batidas que a mãe faz na barriga, movimentos muito intensos e diferentes quando acontece alguma comunicação pelos pais.
A especialista descreve as características de crianças superdotadas:
— São crianças que balbuciam ou até emitem as primeiras palavras aos 3, 6 ou 10 meses de idade. Essas, já estarão dando “sinais de fumaça” de que vem por aí um serzinho bem intenso. E essa intensidade já precisa ser acolhida e trabalhada adequadamente nos primeiros dias de nascido.
Menino gênio
Pedro é um menino alegre, doce e questionador como a maioria das crianças. Curioso e competitivo, Dudu, como escolheu ser chamado no primeiro dia em que foi à escola maternal. Antes de um ano já caminhava e falava, e ao um formava e falava frases com fluência. Os pais consideravam a inteligência e esperteza dele normal, até por ser de certa forma o perfil deles também. O casal lembra que o filho se destacava em tudo: futebol, teatro e música. A decisão de buscar um diagnóstico foi tomada em julho de 2022 porque o menino começou a demonstrar mais tédio e desmotivação com a escola devido a facilidade em aprender o conteúdo.
Ele foi levado a um neuropsicóloga. Antes dos testes, a especialista sinalizou que o menino seria uma criança com QI muito alto pelo relato que a mãe repassou sobre a gestação. Ele fez testes padronizados, o Wisc 4 (Escala de Inteligência Wechsler para Crianças).
— Ele é o atípico do atípico, e dentro do superdotados ele é além. Tem testes que ela (neuropsicóloga) aplica que demoram três sessões para fazer, e ele fez em meia hora. Foi bem assustador para nós processarmos isso — contou a mãe.
A média de Q.I dele foi de 150, o mais alto que a especialista teve entre os pacientes dessa idade em Caxias:
— A idade cognitiva e a capacidade dele chega aos 16 anos, mas ele não tem dificuldades em se relacionar tanto com as crianças da idade dele, quanto com os mais velhos. Ele tem várias habilidades e um emocional bem desenvolvido. Estamos sempre incentivando e aprendendo junto com nosso filho — disse o pai.
Sorridente, o menino afirma que a superdotação é um dom que recebeu:
— Cabe a mim decidir o que eu vou fazer com isso. Eu pretendo ser astronauta ou cientista. Sendo cientista eu vou saber vários elementos químicos e poder combinar eles. E sendo astronauta posso ir para fora da Terra para levar elementos daqui para colonizar outros planetas ou para pegar elementos de outros planetas para trazer e combinar com os daqui e melhorar a vida na Terra.
Do 3º para o 5º ano do Ensino Fundamental
Dudu estuda no São Carlos, em Caxias. A diretora do colégio, Marina Matiello, afirma que depois do diagnóstico de superdotado, ele passou por uma série de avaliações na escola. Em conjunto com os pais, decidiram que ele tinha condições de passar do 3º para o 5º ano do Ensino Fundamental.
— O Pedro não vai cursar o 4º ano, mas as habilidades e os conteúdos que são pré-requisitos para uma aprovação de 4º ano foram trabalhados anteriormente por ele. Foi observado se ele teria maturidade para dar conta do avanço porque é importante ter atenção com o emocional dele — explica Marina.
Principais características de superdotados:
- Aprende de um jeito fácil e rápido em relação às outras crianças;
- É criativo, tem muita imaginação e é bem informado, até em áreas pouco comuns para uma criança;
- É questionador e está sempre curioso. Não aceita respostas simples, como “porque sim ou não”;
- Tem excelente vocabulário e é verbalmente fluente;
- Aprende novas línguas com facilidade;
- Tem múltiplos interesses, muitos acima da idade cronológica;
- Demonstra sensibilidade e empatia com os outros;
- Tem bom desempenho em outras áreas como dança, desenho, teatro ou música e também em esportes;
- Aprende sozinho e resiste à repetição e atividades rotineiras.