BRASIL & MUNDO
DÍA DO ÍNDIO: Jovens indígenas enfrentam cidade para conquistar diploma universitário
G1 ouviu estudantes que vivem em residência da Uefs, no interior da Bahia.
Em mais um Dia do Índio, contam que preconceito ainda é principal desafio.
“Quando nos apresentamos e dizemos que somos indígenas, todos perguntam se andamos nus, moramos em ocas, até os professores universitários. Claro, ainda existem etnias que, por serem afastadas e não ter contatos com os brancos, ainda vivem em ocas, têm costumes mais restritos. Mas já tem indígenas que moram em cidades, não são mais ocas, já são casas tradicionais. Também têm aldeias já com internet, telefone.
A gente teve que acompanhar as coisas, porque, para você sair da aldeia e ir para ir a universidade sem conhecer telefone, computador, não tem como”. O depoimento é de Rodolfo Edvan Moreira, 22 anos, da tribo Kaimbé, um dos 9.756 indígenas brasileiros que cursam o ensino superior.
Em lembrança ao dia do índio, comemorado nesta sexta-feira (19), o G1 conversou com dois jovens universitários indígenas que hoje vivem em uma residência instalada no campus da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Entre os relatos, eles falam da vontade e da importância de se manter os costumes e tradições, contam histórias da vida na cidade e falam do preconceito que ainda enfrentam “em plena época que estamos”, como diz Rodolfo.
Estudante do 5º semestre do curso de Administração da Uefs, o rapaz é integrante da tribo Kaimbé, situada região de Euclides da Cunha, norte da Bahia. Lá, vivem sua mãe, uma irmã de nove anos e o padrasto. “A aldeia tem 1.256 kaimbés e uma estrutura mais próxima da cidade, mas mantendo as tradições. Lá, eu estudei até o 3º ano. Senti a necessidade de fazer uma faculdade porque o cacique recebe projetos do governo e não tinha quem orientasse, interpretasse os projetos da forma que eles vinham. Daí vim fazer Administração”, explica.
Comunidade dos Kaimbés fazem um ritual do Toré na Bahia (Foto: Rodolfo Moreira/Arquivo Pessoal)
Preconceito
Sobre a rotina na cidade, um dos principais pontos enfrentados pelos jovens indígenas é, ainda, o preconceito. “Tanto por parte da sociedade e de colegas de turma quanto por professores. A gente espera que o professor seja mais ‘mente aberta’, conhecedor, tenha respeito pela história. Mas você ainda vê certo professor com olhar diferente, é lamentável”, reclama. Segundo ele, o preconceito é perceptível em sala de aula, por exemplo, quando os indígenas ficam isolados, com pouco contato com os “brancos”.
“Tem gente que faz o contrário, graças ao pai Tupã, gente que acolhe. Mas o preconceito ainda é grande, mesmo. A gente vê também que grande parte disso vem de outras classes consideradas como minorias, que não nos reconhecem como indígenas, como parte da história do país”, pontua. Segundo o rapaz, nessas ocasiões, eles tentam interagir e realizar ações conjuntas para passar a cultura e mostrar que “todos são brasileiros”.
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