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Saiba porque você não deve casar nunca
Deus estava inspirado quando inventou a conchinha. O encaixe diário perfeito de dois corpos como aquela peça do quebra-cabeças que faltava é um dos grandes méritos de morar junto com quem se ama. Se ir dormir junto é uma das sensações mais incríveis que existe, acordar junto também não fica pra trás. É impagável abrir os olhos todos os dias e perceber que, mesmo sabendo que já está atrasada para o trabalho, seu dia começou bem, afinal, lá está você do lado do amor da sua vida. Tem também o prazer de dividir o edredom, as comidas da dispensa, a cerveja na geladeira, o cachorro. Como se não bastasse tem mais um bônus – poder fazer sexo todos os dias com a pessoa que você escolheu pra você. Em meio a tantas vantagens, não é de se espantar que morar junto seja um desejo da maioria dos casais. Aliás, pra muita gente ultrapassou o limite do desejo, já virou uma coisa automática, que vem entre o pedido de namoro e o nascimento dos filhos. Afinal, como não querer estar diariamente do lado de quem se ama?
A Entrada do Buraco
Você aí leitor que se identificou com as delícias de juntar as escovas de dentes, permita-me avisar-lhe: você está entrando numa cilada. Antes de você querer jogar pedra naquele que está tentando te convencer que o seu sonho de morar junto não é uma ideia tão boa assim, adiantamos – esse argumento não vem de um solteiro forever alone, que tem inveja da vida de pombinhos que muitos casais conquistaram. Pelo contrário – o intuito aqui é apenas clarear a visão que tende a ser tomada pela típica cegueira que acomete os apaixonados.
De repente, fins de semana passam a parecer pouco tempo demais pra ficar junto do outro. A despedida no domingo a noite dói, corta o coração. Dá vontade de ligar pro chefe e inventar uma diarréia, de cancelar todos os compromissos, só pra fazer o fim de semana durar mais um pouco. E depois de sucessivos beijos de tchau e da saudade que começa antes mesmo da separação, começa a surgir a ideia de evitar esses momentos dolorosos. Atrelado a outras questões do tipo, sair de uma vez da casa dos pais ou juntar os salários pra conseguirem algo juntos, o próximo passo aqui é querer juntar os trapos. Essa é a parte divertida da coisa. Planejar os móveis, comprar tupperware pra cozinha, fazer crediário da primeira TV de plasma. Montar a casa do jeitinho que vocês sempre sonharam é deveras uma brincadeira divertida.
O problema é que depois de tudo pronto, de casa montada, de cachorro comprado, vem chegando de mansinho uma companhia que estará ao lado de vocês pela vida toda: a rotina. No começo ela pouco importa, no entanto, se você desejou ir morar junto de alguém, espera-se que haja intenção de permanecerem juntos por um longo tempo. A rotina, espertinha, sabe disso e não demonstra seus sintomas nos primeiros meses que parecem um verdadeiro conto de fadas. No entanto, não se deixe enganar: você não vai se livrar dela, ela mostra as garras cedo ou tarde.
Sintomas
Eis que um dia você perceber que sua mulher está pelada na sua frente trocando de roupas e você continua olhando pro jornal afinal, essa é uma cena comum de todos os dias. E ele passa por você sem cuecas e você puxa assunto sobre o lixo que precisa ser levado pra fora.
De repente também, aquele defeito dele de ser bagunceiro que até então era um mero detalhe, passa a te assombrar todos os dias. Poxa? Acabei de lavar o banheiro e ele deixou tudo ensopado de novo? Acabei de arrumar o quarto e tem roupas dele jogadas pelo chão?
E as brigas? No começo elas parecem inocentes. Os mais otimistas dirão que brigar é coisa normal na vida de qualquer casal e, apoiando-se nesse argumento, você também não se preocupa muito com os curto circuitos que rolam entre vocês de vez em quando. Num dia é por causa do banheiro molhado, no outro porque ele quer ver TV até tarde e não te deixa dormir, depois porque ela usou a mesma faca pra manteiga e pra geléia ou porque você simplesmente estava mal-humorada e descontou na única pessoa que estava do seu lado. E vocês brigam, mas logo em seguida fazem as pazes com sexo de reconciliação. O que não percebem – calma, a culpa é da cegueira como já dissemos – é que as discussões que antes eram semanais, passaram a ocorrer 2 vezes por semana, depois 4 vezes por semana, depois diariamente.
Começa a bater uma certa preguiça de fazer sexo também porque, afinal, você sabe que o outro estará lá amanhã, e depois, e depois então não há urgência. As dores de cabeça na hora do sexo parecem ficar mais frequentes, os seus programas favoritos insistem em passar na TV bem na hora em que ela quer transar, o cansaço parece ser maior do que o tesão.
A presença do outro que antes era a melhor parte do dia, era o alívio para o stress, era garantia de sorrisos, de repente passa a ser coisa mais corriqueira do que escovar os dentes de manhã. Não existe mais saudade. A garantia da presença do outro faz com que nos sintamos confortáveis demais e seguros demais. No entanto, essa é uma segurança falsa. Diferente de uma relação com irmãos, por exemplo, com quem você pode brigar sem correr o risco de perdê-los, quando estamos lidando com uma pessoa que tem a opção diária de ir embora, a coisa muda. E então você começa a perceber que caiu numa cilada – aquelas coisas deliciosas que vocês conquistaram ao morar junto, trouxeram consequências ruins. Aquela decisão que, tempos atrás, parecia ter sido tomada em nome da união de vocês foi exatamente o que lhes afastou.
Cuidado com o que você quer pois você pode conseguir
Por isso, queridos leitores, muito cuidado com a armadilha de ir morar junto. Crescemos ouvindo de quem já viveu a experiência que essa é uma das coisas mais difíceis da vida, mas mesmo assim cometemos o mesmo erro. Queremos ver pra crer e nessas acabamos destruindo relacionamentos que poderiam ser extremamente felizes caso o excesso de convivência não tivesse atrapalhado tudo. Sim, eu sei, essa conclusão fria e insensível parece acabar com nossos sonhos românticos de dormir e acordar feliz do lado de uma pessoa só pro resto da vida, mas a verdade precisa ser dita. A decisão de viver em casas separadas mantém aquilo que dá brilho para o início de qualquer namoro: a saudade, a ansiedade pelo encontro, a vontade de se arrumar pro outro, a existência de assuntos novos sobre os quais conversar, entre outras coisas. Além disso ela preserva um dos nossos maiores bens – a individualidade. O direito de poder fazer escolhas sem perguntar qual a opinião do outro. O direito de poder trazer seus amigos pra jogar poder ou suas amigas pra tomar umas com privacidade. O direito de poder ir e vir a hora em que quiser, sem precisar dar satisfações. Não é egoísmo, é apenas não abrir mão de ser você para se fundir com outra pessoa. Por isso, todo esse papo não se trata de cultivar menos amor – pelo contrário. Se trata de poder viver o sonho de viver um grande amor por muito tempo, sem que detalhes bobos estraguem isso e, principalmente, de preservar um dos maiores bens da vida – a liberdade.
A escolha é só sua. Pode custar a sua felicidade. E o amor da sua vida.
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