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Independência da Bahia: símbolos da guerra ainda sobrevivem em Salvador

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Panteão de Pirajá abriga restos mortais do general Labatut.

 

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Panteão de Pirajá, ontem: local abriga restos mortais do gen. Labatut (Foto: Almiro Lopes)

O Panteão de Pirajá chega a ser confundido com a capela do cemitério, que fica ao lado. Mas a verdade é que ele guarda, desde 1914, os restos mortais do general Pierre (ou Pedro) Labatut, comandante do Exército Pacificador, que expulsou as tropas portuguesas da Bahia, em 1823, e garantiu a independência do Brasil, no dia 2 de julho daquele ano.

Apesar de ser um dos locais, em Salvador, que ainda preserva a lembrança dessa conquista, não são poucos os que desconhecem seu significado.  O motorista de ônibus José Araújo, 53, que há 18 anos circula por Pirajá, é um deles. “O pessoal só se movimenta na época da festa”, diz, sem saber o que representa a edificação.

De Cabrito e Pirajá
Mas há quem conheça a história, como a auxiliar administrativa Alba Regina Querino, 54, e o comerciante Fábio Rodrigues, 37. A pernambucana, que veio morar em Salvador em 1974, conta que o desconhecimento é grande, mas havia mais interesse. “Naquela época (década de 70),  uma senhora que trabalhava na igreja tinha a chave e mantinha aberta. Ela contava a história. Depois que ela foi embora, nunca mais foi aberta”, contou. Há pelo menos 30 anos, a porta do Panteão só abre nos dias 1º e 2 de julho, para os festejos da independência.

“Só quem mora aqui há mais tempo, e que já estudou, é que sabe que ali está enterrado o general Labatut. Fora isso, é pouco falado, nas escolas não se ensina”, critica Fábio Rodrigues, dono de um bar em frente ao Panteão. O professor de História Sérgio Guerra Filho concorda. “Aí tem um elemento importante, que é a ausência da história local no currículo da educação básica. A História da Bahia ainda é subaproveitada”, comenta.

A Batalha de Pirajá, ocorrida nos dias 8 e 9 de novembro de 1822, foi a mais importante e é considerada definitiva para a vitória das tropas brasileiras sobre os portugueses. De acordo com o historiador Luís Henrique Dias Tavares, no livro História da Bahia,  é aceita a versão de que o corneteiro Luís Lopes salvou o Exército brasileiro ao errar o toque de corneta, indicando que a tropa deveria “avançar a cavalaria, e sucessivamente à degola”, quando, na verdade, a orientação era de retirada. Assustados, os portugueses recuaram, dando a vitória aos brasileiros.

Confrontos
Para quem não consegue enxergar marcos da Independência em Salvador, há um alento. “A cidade, a rigor, não viveu a guerra. A guerra foi no entorno. A Pirajá que hoje virou um bairro não tem nada a ver com a que foi palco das batalhas. Nos locais onde houve confronto, eram roças, às vezes nem isso”, explica. Mas houve, sim, muitos confrontos, segundo o professor, só que nas regiões onde hoje há os bairros de Brotas, Campinas de Pirajá, Armação e, mais tarde, no Rio Vermelho.

“Não foi um trajeto de tomada, mas de ocupação. Os portugueses se retiram e os brasileiros levam, entram no trajeto e já são recebidos como no episódio das irmãs da Soledade, com as flores”, destaca.

“Sobre meu cadáver” Se em Pirajá pouca gente sabe contar a história, em Nazaré o cenário é diferente. Ainda existe hoje na Avenida Joana Angélica as instalações do antigo Convento da Lapa. Lá, funciona há quatro anos o Memorial Joanna Angélica. A ideia foi do próprio padre Aderbal Galvão de Souza, diante do interesse popular sobre a história da freira, mártir da independência.

“O povo não vê Joanna Angélica só como heroína da independência, mas também como heroína da fé”, diz. No lugar, todo mundo sabe contar a história da freira. A paróquia produziu até um documentário. Aos 61 anos, Joanna Angélica era, naquele 19 de fevereiro de 1822, administradora do convento. Após conquistar o Forte de São Pedro,  os soldados portugueses desceram em direção à Mouraria e invadiram o local, acreditando que havia ali soldados locais.

Após ultrapassar o portão principal, espancaram o capelão Daniel Lisboa e encontraram a freira em frente a outro portão. “Para trás, bandidos! Respeitem a Casa de Deus. Recuai! Só penetreis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver”, disse. Foi morta ali mesmo, a golpes de baioneta.

Mas ela não é a única heroína da história. Maria Quitéria, que se vestiu de homem para lutar, também é homenageada nos festejos deste ano, que tem como tema oficial “Guerreiras da Independência”. Sua estátua, na Praça da Soledade, é mais uma marca da guerra à vista dos moradores da capital.

Orgulho
Chefe do 6º Depósito de Suprimento do Comando da 6ª Região Militar, no Forte de São Pedro, o tenente-coronel Welson da Conceição Jorge sente orgulho dos antepassados nas lutas pela Bahia.  “Em 1821, foi daqui que surgiram os ideais de liberdade. Em fevereiro de 1822, o forte foi o último a se render aos portugueses, depois de 300 mortes aqui dentro. Aqui era o foco da resistência”, resume.

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