O desastre ambiental na cidade de Mariana, em Minas Gerais, já é classificado por muitos como o maior ocorrido no Brasil e gera certo clima de apreensão entre a população sul baiana. Como sintoma disso, a matéria que alardeava a chegada da lama tóxica, despejada pelo Rio Doce no mar do Espírito Santo, ao extremo sul da Bahia ganhou repercussão nos principais blogs do sul do estado e, mesmo tendo sido desmentida logo em seguida, gerou preocupação entre a população e os empresários turísticos do local, que dependem diretamente do mar em suas atividades cotidianas.
Contudo, apesar das garantias divulgadas pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA) de que a lama tóxica muito dificilmente chegará ao litoral baiano, um perigo silencioso ronda a região sul da Bahia. Entre Ipiaú e Itagibá, municípios do sudoeste baiano, a mineradora Mirabela administra algumas minas de níquel e possui uma barragem localizada a aproximadamente um quilômetro do Rio de Contas. O mesmo rio que tem seu encontro com o mar no município de Itacaré, a poucos quilômetros da Península de Maraú e próximo a Ilhéus.
Grupos ambientalistas denunciam desde 2011 o não cumprimento das condicionantes ambientais pela mineradora. Além disso, em 2014 o Departamento Nacional de Produção Mineral fez uma análise de risco das barragens de mineração no Brasil, e concluiu que o complexo de mineração Santa Rita da Mirabela em Itagibá está classificada como C – risco moderado, o mesmo risco apontado para as barragens da Samarco em Mariana, como revela a ambientalista Socorro Mendonça em sua fanpage no Facebook, intitulada Mariana é Aqui.
Deve se levar em conta, também, o fato de que a empresa responsável tragédia em Minas apresentava nos últimos anos recordes seguidos em seus lucros. Ninguém esperava que diante tal “sucesso empresarial” residisse o risco iminente de tragédia. No caso da Mirabela, o que se sabe é que a empresa declara publicamente uma séria crise financeira, atribuída à queda brusca do preço do minério de níquel no mercado internacional. A Mirabela vem, inclusive, pedindo repetidas vezes socorro financeiro ao estado como fica evidente nesta entrevista do diretor financeiro da mineradora ao blog Giro em Ipiaú. Para se ter uma noção da crise, em 2014 a mineradora demitiu 400 funcionários, em julho de 2015 anunciou férias coletivas a seus funcionários e no último mês de outubro demitiu mais 200 pessoas.
O que esperar então de uma mineradora que passa por sérias dificuldades financeiras? Segundo afirma seu diretor financeiro na entrevista citada acima, o caminho para sair da crise seria a “diminuição dos custos operacionais da empresa”. Quais custos estão sendo reduzidos? São perguntas que o poder público das cidades no que ficam no caminho do Rio de Contas deveriam estar cobrando da Mirabela e pressionando os órgãos de de fiscalização para que se possa evitar uma tragédia tão grande quanto a de Mariana. Políticos de Ipiaú, Barra do Rocha, Ubatã, Gongogi, Ubaitaba, Itacaré e Maraú deveriam estar mais preocupados com os rumos que a situação da Mirabela tem tomado.
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