ENSAIOS E ENTRETENIMENTO
Antonio Fagundes critica cinema brasileiro: ‘Não saímos do beabá’
Ator diz que poderia fazer até 6 filmes por ano e lamenta desorganização. Ele atua com Sandy em ‘Quando eu era vivo’, que estreia nesta sexta-feira.
Antonio Fagundes garante que faria “de cinco a seis filmes por ano” se o cinema brasileiro fosse um tanto mais organizado. “Tem muita gente que não me chama porque acha que não vou topar e eu nem fico sabendo. É possível conciliar a agenda, mas, se marcar em março, tem que gravar em março”, diz Fagundes ao G1. “Cacá Diegues fez um filme pensando em mim e marcou a filmagem para um determinado mês. Dei férias para a companhia de teatro e o filme foi adiado. Queria fazer, não deu. Teve outro filme que do dia que fui chamado até a estreia passaram-se nove anos. Só para ter ideia de como funciona o cinema no Brasil”.
O ator volta a estrelar um filme seis anos após uma breve aparição em “A mulher do meu amigo”, de Cláudio Torres. Ele está no suspense “Quando eu era vivo”, com estreia nesta sexta (31). Baseado no livro “A arte de produzir efeito sem causa”, de Lourenço Mutarelli, o longa é dirigido por Marco Dutra (“Trabalhar cansa”) e tem Sandy e Marat Descartes no elenco. Ele também está no longa “Alemão”, com estreia marcada para março. O retorno ao cinema coincide com o fim da novela “Amor à vida”, da TV Globo.
Fagundes também critica roteiristas e diz que “não saímos do beabá”. “Não conseguimos fazer policial; não conseguimos fazer ficção científica; as comédias também não estamos fazendo muito bem; não conseguimos fazer história de amor porque não há bons contadores de história no Brasil”, afirma. “Não tem coisa mais complicada do que você pegar uma pessoa que está sentada numa poltrona confortável e fazer essa pessoa ter medo. Se você consegue dar um arrepiozinho, é porque você é um mestre. Infelizmente, nós temos muito poucos mestres no Brasil”.
O ator diz que um dos grandes méritos de “Quando eu era vivo” é que ele conta uma história. “Quando li o roteiro, fiquei muito impressionado com a qualidade. É muito bem escrito e preserva a essência do livro do Mutarelli. E o Marco é um diretor de mão cheia, que pode dizer que assinou uma série de trabalhos bons”.
“Quando o Fagundes entrou no filme foi perfeito. Os ensaios foram incríveis, no set, ele era extremamente rigoroso”, conta Marco Dutra, aoG1. “A Sandy não foi inacessível. Na primeira conversa, parecia que a gente era amigo há 30 anos”. Por sua vez, Sandy contou que, apesar de seu foco não ser o cinema, mergulhou em sua personagem durante as gravações. “Quis ser discreta e entregar o que foi pedido, da melhor maneira possível. Trabalho bastante e meu foco é a música, mas, quando filmávamos, tinha pouca coisa acontecendo no meu dia a dia, então mergulhei mesmo naquilo. Quando chegava em casa, meu marido, minha mãe e meu pai falavam que eu estava diferente, meio pensativa e fechada”, afirma a atriz.
Thriller psicológico
“Nunca vi espíritos, nunca fui possuído, mas lembro de coisas muito fortes da infância, como quando uma prima minha caiu no chão possuída durante uma oração em casa. Fiquei muito impressionado com essa cena”, lembra o diretor. Marco conta que alguns acontecimentos “estranhos” marcaram as gravações. “O apartamento na avenida São Luís era gigantesco e maravilhoso, com 500 metros quadrados, naquele edifício Louvre, mas era um lugar meio labiríntico. Estava conversando com o fotógrafo e a diretora de arte quando começamos a ouvir gritos e pancadas, daí descobrimos que o técnico de visita de locação tinha se trancado em um dos cômodos”.
Agora, se Marco Dutra pretende continuar explorando o sobrenatural em seus filmes, a resposta parece afirmativa. O diretor conta que entre seus projetos estão um longa de lobisomens, chamado “As boas maneiras”, que vai ser codirigido com Juliana Rojas e produzido por Sara Silveira (“espero filmar esse ano”, diz); e um sobre vampiros, produzido por Rodrigo Teixeira e que “está começando a ser escrito”.
Marat Descartes comenta que o thriller psicológico é o gênero do cinema de Marco Dutra. O ator já está em sua terceira parceria com o diretor – antes fez “O ramo” e “Trabalhar cansa”. “Eu e o Marco temos uma comunicação sintonizada. Ele é um diretor extremamente sensível e inteligente no sentido de conseguir passar para o ator o que significa a narrativa”, afirma. Marat diz que ver Jack Nicholson em “O iluminado” (1980) e ler o tratado “Luto e melancolia”, do Freud, foram suas maiores referências para construir o personagem.
“Quando a pessoa tem uma perda significativa na vida e não consegue elaborar o luto, ela acaba se transformando no objeto do luto. É o que acontece com o meu papel. Ele revisita o passado, começa a descobrir reminiscências da história da mãe, entra numa obsessão de tentar descobrir coisas do passado e acaba se transformando um pouco na mãe, vestindo roupas dela e assumindo uma missão que ela tinha no passado e não conseguiu cumprir”, diz Marat. (G1)
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