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‘Dinheiro não traz felicidade’, diz ganhador da Mega-Sena sequestrado
Vítima e irmão foram sequestrados em Guarulhos nesta segunda.
Criminosos fazem parte de quadrilha que age em presídios de SP.
Acostumado a levar uma vida simples como autônomo, o pedreiro que foi sequestrado após receber um prêmio de R$ 7,8 milhões da Mega-Sena disse que o dinheiro não traz felicidade. Ele contou ao G1 o sufoco que passou nas mãos de criminosos que integram uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios do estado de São Paulo.
“Pra mim não trouxe não, o que eu passei hoje não trouxe felicidade. Eu pensei que ia trazer. Como eu ia ajudar minha família, eu pensei que ia ser, mas o final foi esse aí. Sinceramente trouxe tristeza”, lamenta o vencedor. Além do milionário, seu irmão de 42 anos, também foi levado pelos criminosos.
A vítima foi abordada por volta das 13h em sua própria casa, em Guarulhos, na Grande São Paulo, após sacar R$ 5 mil em um banco para viajar para a Bahia, sua terra natal. Seu irmão, que também trabalha como pedreiro, estava em sua casa somente para visitá-lo. Os dois viajariam de carro até o Nordeste.
O pedreiro, que há 15 anos veio da Bahia, não abandonou seus costumes da época em que era um simples operário e continuou trabalhando em obras, fazendo esforço carregando sacos de cimento nas costas. Andava com uma moto velha, que havia sido comprada nos tempos difíceis.
Segundo o pedreiro, ninguém sabia que ele havia faturado o prêmio, além do seu irmão e um tio mais próximo. Apesar disso, nas últimas semanas as pessoas com quem se relacionava perguntavam direto se ele havia sido o vencedor.
“Saiu da lotérica, comentaram na lotérica. Uma menina comentou quando eu entrei: ‘olha lá o ganhador’ ”, afirma. Segundo relato da vítima, os sequestradores disseram que o estavam perseguindo fazia tempo.
Vestindo roupas surradas, o vencedor da Mega-Sena chegou até a ser zombado pelos sequestradores. “Eles disseram: ‘eu não acredito, o negão é um cara de sorte. Você com um dinheiro desses e zoado desse jeito’. Eles diziam o tempo todo se eu não colaborasse eu sabia o que ia acontecer”, disse. Os criminosos chegaram a ameaçar cortar uma parte do seu corpo.
“Eu via na televisão isso ocorrendo com os outros e nunca imaginei que fosse acontecer comigo. Mas o dinheiro é uma maldição tão grande”, disse a vítima, que vai embora para a Bahia. “Eu não quero luxo, o dinheiro era pra ajudar minha família”, ressaltou.
“Infelizmente, quem tem alguma coisa passa a ser perseguido, acaba o sossego, a pessoa não tem liberdade mais”, lamenta ele, que aparenta desapego ao dinheiro cobiçado. Muito assustado, seu irmão, desabafou na delegacia. “Nasci de novo”, comemorou.
Sequestro
Um casal armado invadiu a casa do pedreiro, no bairro Continental, na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo, na tarde desta segunda. “Cheguei em casa e guardei o dinheiro no guarda-roupa, com outro que estava guardado, e sentei no sofá com meu irmão. Não deu cinco minutos e os caras chegaram gritando”. Em seguida, as vítimas foram imobilizadas. “Me amarraram com carregador de celular e pedaço de pano e pediram dinheiro. Depois amarraram minha boca, pegaram eu e meu irmão, colocaram dentro do carro e levaram para cativeiro.”
Levados para um imóvel na cidade de Mairiporã, as vítimas trocaram de casa no início da noite de ontem e voltaram para a cidade de Guarulhos, local onde a polícia estourou o cativeiro.
Na madrugada desta terça-feira, policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que já investigavam uma quadrilha especializada em arrecadar dinheiro para uma facção criminosa, encontrou o cativeiro. O grupo, que era investigado havia cerca de 60 dias, fazia roubos de carga e roubo a banco.
Na troca de tiros, um suspeito ficou ferido. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. O outro foi levado para a sede do Deic.
No cativeiro, a polícia apreendeu duas armas – uma pistola .40 e revólver calibre 32 – e 1kg de cocaína. O suspeito morto, um feirante de 25 anos, tinha passagens por roubo e homicídio, segundo a Polícia Civil. Já o detido de 23 anos também tem passagem por roubo. (G1)
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