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Famílias ‘apertam o cinto’ e redução de gastos aparece no PIB
Pilar do crescimento nos últimos anos, o consumo das famílias parece estar saturado. Os ingredientes que inflavam o Produto Interno Bruto (PIB) – crédito farto, inflação sob controle e baixa inadimplência – estão saindo de cena.
No terceiro trimestre deste ano, os dados do PIB mostram uma leve alta de 0,1% frente ao mesmo período de 2013 – o resultado mais fraco desde o terceiro trimestre de 2003. Ante o segundo trimestre, a demanda dos lares caiu 0,3%, pior resultado desde o quarto trimestre de 2008.
Quem antes comprava com folga, na prática, passou a economizar. A família do personal trainer Handerson Eduardo de Oliveira, de 37 anos, decidiu apertar o cinto para aliviar o orçamento doméstico. “O Natal vai ser bem magrinho”, conta. Com um filho pequeno e outro em gestação, ele e a mulher Kaline Neri Pereira, de 36, pretendem economizar até 30% do que gastaram no ano passado.
As finanças do casal serão consumidas por gastos tradicionais nas festas de fim de ano: comida típica, bebidas, confraternizações com colegas de trabalho, presentes e pequenas viagens para visitar parentes.
O corte virá, principalmente, do valor dos presentes aos familiares e amigos. Eles serão substituídos por lembranças mais simples. “Passamos a gastar bem mais com despesas rotineiras como supermercado, gasolina e alimentação. Tem sobrado menos dinheiro em caixa para as despesas extra”, conta Handerson.
O casal também sentiu o peso da inflação nos planos de saúde, na escola do filho e em produtos e serviços. A perspectiva para 2015 é que sobre ainda menos dinheiro no bolso, prevê o personal trainer.
O retrato deste sentimento já aparece nos números. Em novembro, a confiança do consumidor brasileiro caiu 6,1% ante outubro, omenor patamar desde dezembro de 2008, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). A piora é sentida tanto no atual momento quanto na expectativa para os próximos meses.
Para o economista e sócio da Go Associados, Gesner Oliveira, a redução da confiança tem reflexo maior sobre os bens cuja compra pode ser adiada, como televisores, aparelhos de som e carros. “Os bens de consumo duráveis saem dos planos do consumidor. Ele sabe que não é momento para cometer imprudências”, avalia.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também prevê um Natal moderado para a aquisição destes bens. O recuo de 0,8% no indicador de consumo das famílias em novembro foi o menor patamar desde 2011, início da série histórica, recuando 3% na comparação mensal e 15,4% na anual.
Consumo mais moderado
Nos três primeiros meses de 2010, a demanda dos lares chegou a crescer 8,5% na comparação trimestral e avançava com força nos períodos seguintes. Mas desde o início de 2013, a expansão dos gastos familiares não chega a 3% na mesma base de comparação – um terço do ritmo anterior.
Junto da chamada recessão técnica da economia – caracterizada por dois trimestres seguidos de PIB negativo – o consumo das famílias encolheu 0,2% entre janeiro e março deste ano, e teve leve alta de 0,3% entre abril e junho.
Com peso de 62% no PIB, a demanda dos lares perdeu força, mas ainda é um suporte importante para evitar um decréscimo maior no PIB, comenta Oliveira, da Go Associados. “Isso porque os outros componentes da demanda, como a Formação Bruta de Capital Fixo e exportações, não têm dado sinais de crescimento robusto”.
Na visão do economista da LCA Investimentos Francisco Pessoa, o resultado dos dois primeiros trimestres do ano foi tão ruim que era natural esperar uma sensível melhora no resultado do terceiro trimestre. “Isso não significa, contudo, que a economia voltará ao ritmo anterior”, diz.
O poder de compra do brasileiro foi corroído, especialmente, por uma combinação entre a alta dos preços e a escalada dos juros, avalia Oliveira, da Go Associados. Em outubro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 6,59% no acumulado de 12 meses, acima do teto da meta do governo, fixado em 6,5%.
Neste período, a taxa Selic abandonou o ciclo de queda para voltar a subir, chegando aos atuais 11,25%. “A massa salarial continua crescendo, mas o consumidor tem perdido o poder de barganha nas negociações de compra”, afirma o economista.
Mesmo com estímulos, crédito cresce menos
Em julho, o Banco Central (BC) anunciou medidas para aumentar a capacidade dos bancos em emprestar dinheiro, a fim de estimular o consumo. O órgão reduziu os valores dos depósitos compulsórios (reserva obrigatória formada pelos bancos no BC), esperando uma injeção extra de R$ 30 bilhões a pessoas físicas e empresas. (G1)
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