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DE OLHO NO ESPORTE

Isolado no time, Cristiano Ronaldo some no atropelo alemão na Fonte

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Os números são da Fifa. Na Fonte Nova, Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo segundo a própria entidade, executou sete arremates, sofreu duas faltas, completou 22 passes, percorreu 8,7 quilômetros e, , atingiu 30 km/h. 

Perseguido por Goetze, Ronaldo tenta arrancada, mas nada deu certo para sua seleção (Foto: Mauro Akin Nassor)

Perseguido por Goetze, Ronaldo tenta arrancada, mas nada deu certo para sua seleção
(Foto: Mauro Akin Nassor)

Nas estatísticas deste repórter, durante os 94 minutos de sofrimento da seleção portuguesa frente à Alemanha (valem os acréscimos), os dados apurados são outros.

Cristiano Ronaldo olhou 13 vezes para o telão, tocou o dolorido joelho em três oportunidades, deu dois passes de letra e ajeitou o cabelo 16 vezes, já contabilizando as ajeitadas mais cuidadosas, em dois momentos de atendimento médico no campo.

Aqui, vale a ressalva de que os dados do repórter não são de todo confiáveis. Afinal, posso ter perdido algum importante frame do timoneiro da nau lusitana enquanto testemunhava, por exemplo, mais um gol de Müller para os alemães.

Sim, a estreia na Copa do atual dono da Bola de Ouro foi na Bahia e muita gente fez questão de estar na Fonte Nova só para ver o brilho do 7 português, mas teve que se contentar com uma atuação de jogador comum. Do outro lado, o 13 alemão foi certeiro: quatro chutes e três gols.

Cristiano Ronaldo, sabe-se, navega entre a condição humana e a engrenagem de máquina. Desde criança, forjou-se para jogar futebol. Aos 12 anos, batia pontinhos com peso nos tornozelos para fortalecer as pernas. Depois, dedicou-se à natação para melhorar o porte físico. Aos 29 anos, levanta alteres como se para isto vivesse e, nos treinos, repete finalizações à exaustão – com as duas pernas.

Esta é a porção máquina. A porção homem surge em cada toque no joelho esquerdo, acometido por uma tendinite que, se não foi capaz de tirá-lo da Copa, nitidamente lhe espeta. Sim, Ronaldo sente dores, físicas e emocionais.

Talento reconhecido, fortuna acumulada, carrega nas costas o peso de um país que cobra dele, e somente dele, a redenção pela bola. Na segunda-feira (16), mostrou-se mais amuado que redentor. Parecia convencido de que seu time não podia deter o atropelo alemão. As famosas arrancadas se resumiram a duas, as pedaladas foram para lugar nenhum e sequer a torcida cantando seu nome conseguiu animá-lo.

Na verdade, a Fonte Nova só viu dois lapsos do Cristiano Ronaldo Bola de Ouro: no fim da partida, numa cobrança de falta defendida pelo goleiro Neuer, e após o aquecimento pré-jogo, quando ele tirou a camisa na porta do túnel e, peitoral e abdômen à mostra, lançou o padrão pra galera.

Exceto isso, o capitão português foi só tristeza. No terceiro gol germânico, mirou o telão, bufou resignado e, baixando a vista, balançou a cabeça negativamente. Em seguida, arrancou na tora a braçadeira, como quem pede demissão do cargo.

Não pediu nem pedirá. Com fama de arrogante mundo afora, Ronaldo é visto em Portugal como um humilde batalhador que não se conforma com pouco. E ele quer vencer com sua seleção. Entretanto, sua porção homem também sabe que, sozinho, nem o atual melhor do mundo consegue ganhar todas.

Foi o que ficou claro no olhar vazio de Ronaldo ao passar pela Zona Mista.  “Hoje não posso falar. Hoje não é meu dia”, disse, referindo-se à autorização para conceder entrevistas. Nem precisava dizer. Todo mundo viu que a segunda-feira (16) não era o dia de Cristiano Ronaldo. (Correio da Bahia)

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