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Legião comemora 30 anos da estreia e se apresenta na Fonte Nova
Banda brasileira de rock’n’roll mais influente e popular dos anos 1980 para cá, a Legião Urbana está de volta ao showbiz desde outubro com uma turnê comemorativa dos 30 anos de lançamento do primeiro álbum.
André Frateschi (vocal), Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos em ação no show da turnê que começou em outubro e chega a Salvador, dia 2 de julho, na Arena Fonte Nova (Foto: Rogerio Avelino/ Divulgação) |
Legionários sobreviventes, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá reverenciam a memória do líder e vocalista Renato Russo (1960-1996) e do baixista Renato Rocha (1961-2015) em quase três horas de show, na companhia do ator e cantor André Frateschi, no vocal; do guitarrista Lucas Vasconcellos (Letuce); do baixista Mauro Berman (Marcelo D2); e do tecladista Roberto Pollo (Cirque du Soleil).
Junto com a turnê que chega a Salvador na tenda da praça sul da Arena Fonte Nova, dia 2 de julho, a banda reedita, em formato duplo, o histórico e homônimo disco de estreia: o CD 1 traz o álbum original e o 2 contém pérolas e raridades que estavam nos cofres da EMI. Confira entrevista com Dado Villa-Lobos. Urbana Legio Omnia Vincit!
Trinta anos depois, como foi mergulhar no material do álbum de estreia da Legião para a reedição comemorativa? Como você dimensiona hoje o disco na história do rock nacional?
Foi um grande impacto de início ouvir os primeiros takes da banda nos estúdios EMI, demos, gravações ao vivo, ensaios. Voltamos no tempo onde três, quatro moleques estavam aprendendo a tocar e registrar aquelas músicas que viriam a ser esse primeiro álbum da banda. Interessante perceber que esses registros mostram a banda mais crua em arranjos mais viscerais em relação às gravações finais.
O CD 2 do álbum Legião Urbana 30 Anos traz registros que estavam guardados no acervo da EMI, além de dois remixes feitos por Mario Caldato (A Dança) e Liminha (O Reggae). Ainda existem registros inéditos daquela fase ou nada restou no baú?
Colocamos tudo que realmente fazia sentido dentro da ideia do projeto, ficando de fora “1977”, por conta da eterna disputa com os herdeiros (de Renato Russo). No mais, fiquei super feliz com o resultado desse que pode até ser considerado um resgate histórico revelador dos embriões da Legião Urbana.
Canções como Por Enquanto, A Dança, Será e Ainda É Cedo seguem atemporais e gerando empatia com os adolescentes, num misto de rebeldia, melancolia e sensação de desconforto existencial. Isso, que é um dos grandes trunfos da Legião, representava também a personalidade de vocês na juventude ou era algo mais forte em Renato Russo, o letrista das músicas?
No que me diz respeito, com certeza, esse trinômio, rebeldia, melancolia e desconforto social, me acompanha desde então. É como vibra essa existência e, nesses dias tão estranhos, mais do que nunca.
Ok, você é um homem maduro (risos), mas qual a sensação de cair na estrada com a Legião, depois de tanto tempo, sem ter a companhia de Renato? Nos primeiros shows, batia, às vezes, alguma lembrança especial?
Renato está presente em cada segundo das quase três horas de show, a diferença é que agora o público não joga coisas na gente e assim não interrompemos a apresentação. Estamos, com certeza, mais “maduros” e tendo a chance de perceber a intensa relação do público com nosso repertório e nós mesmos entendemos melhor o que fomos e o que somos. O que fazemos é comemorar nossas vidas pela música, homenageando, claro, os Renatos, o Russo e o Rocha.
Formação clássica A Legião em 1985 era um quarteto: Renato Rocha (baixo), Renato Russo (vocal), Marcelo Bonfá (bateria) e Dado Villa–Lobos (guitarra) |
Como você e Marcelo Bonfá conheceram André Frateschi e como decidiram que ele era o cara ideal para ser o vocalista nesta turnê?
Conhecemos André há 30 anos, antes mesmo do lançamento desse primeiro disco. Ele tinha 10, 11 anos de idade, filho de Denise Delvecchio, atriz na peça Feliz Ano Velho, de Marcelo Paiva. Chegamos a excursionar com a peça, passando por São Paulo, Campinas e Brasília, e André esperava com a gente o final da peça no nosso camarim. Mas foi em 2012, no projeto do Banco do Brasil, BB Covers – The Beatles, em que fui convidado a fazer parte da banda, que me reencontrei com ele e fiquei impressionado com sua versão de Oh Darling e I Am the Walrus, o que imediatamente nos levou a convidá-lo pra este projeto, melhor escolha impossível.
Wagner Moura foi vocalista convidado da Legião numa apresentação comemorativa, em 2012, com uma performance que deixou a desejar para a maioria dos que gostam da Legião (e me incluo entre os que não curtiram). Existe a possibilidade de Wagner fazer uma participação especial no show em Salvador, dia 2 de julho? Ou outro convidado baiano?
Pois é, o Wagner foi muito guerreiro e, como artista, é fabuloso, adoraria ter ele de volta no palco cantando Andreadoria por exemplo. Ele está em Medellin, fazendo Pablo em Narcos, acho difícil…Vamos pensar em algum soteropolitano com certeza.
Como é a dinâmica do show e o repertório? André canta a maioria das canções? E você e Marcelo cantam em quais partes?
Começamos tocando o primeiro disco na íntegra e na ordem, cantamos os três Será, eu canto A Dança e Bonfá interpreta Ainda É Cedo. O resto André segura. Na sequência vem um pequeno intervalo e começamos a segunda parte com eu e Bonfá fazendo Tempo Perdido e então seguimos com uma sucessão de hits, onde entram nossos dois convidados fixos: Jonnata Doll e Marina Franco fazendo 1965 (Duas Tribos) e Dezesseis.
Existe a possibilidade da turnê gerar um DVD ao vivo?
A ideia é produzir um documentário captando a impressão e o comportamento do público com entrevistas in loco, por todo o Brasil. Vamos ver.
Você lembra de algum show marcante da Legião em Salvador entre os anos 1980 e 1990? De algum detalhe especial naqueles tempos de Circo Troca de Segredos e Concha Acústica do Teatro Castro Alves?
Claro! Na Concha Acústica teve um dilúvio e minha pedaleira terminou o show boiando, assim como Renato rolando pelo chão alagado do palco, e tudo a mil por hora na entrega e emoção com o público em êxtase. Demais! Espero que não chova dessa vez.
Que país é este?, Dado? Qual a sua opinião sobre este momento político conturbado que vivemos, sem falar na crise econômica que nos faz retroceder (mais uma vez na história) em conquistas sociais?
Bem, vou repetir meu amigo Fausto Fawcett: “O Brasil é o abismo que nunca chega” – e sempre em frente!
Crítica: Post-punk que resiste bem ao tempo, por Hagamenon Brito
Entre a crueza natural de uma banda brasileira de rock que estreava em disco, em 1985, dois aspectos se destacavam no álbum Legião Urbana: a personalidade do vocalista Renato Russo e a sinceridade com que as canções mesclavam rebeldia, melancolia e sensação de desconforto existencial.
Criada numa Brasília ainda sob os resquícios autoritários da ditadura militar, a Legião sabia embalar o grito sufocado de liberdade de uma geração com a influência internacional do punk dos anos 70 e do post-punk do começo dos anos 80.
Trinta anos depois, a qualidade da maioria das 11 canções do álbum garante a sua condição atemporal. É um clássico. Adolescentes de ontem e de hoje, por exemplo, se identificam com a urgência de Será, A Dança (“Não sei o que é direito/ Só vejo preconceito/ E a sua roupa nova/ É só uma roupa nova/ Você não tem ideias/ Pra acompanhar a moda/ Tratando as meninas/ Como se fossem lixo…”), Baader-Meinhof Blues e a dolorida Por Enquanto, uma das canções de amor mais bonitas da história da música brasileira: “Mudaram as estações e nada mudou/ Mas eu sei que alguma coisa aconteceu/ Está tudo assim tão diferente…”. Se Geração Coca-Cola ficou datada pelo tema e Soldados segue assombrado pela atmosfera marcial do U2, Ainda É Cedo também resiste ao tempo com seu amor juvenil em crise.
Para os fãs, a edição especial traz outro CD contendo pérolas como declarações espirituosas de Renato Russo, gravações diferentes das versões originais, demos (de Ainda É Cedo, Geração Coca-Cola e A Dança, essa última com participação de Herbert Vianna) e remixes de A Dança e O Reggae feitos por Mario Caldato Jr. e Liminha, respectivamente. E tem ainda um booklet com fotos inéditas e fanzines e recortes da época, num trabalho com produção artística do próprio Dado Villa-Lobos. (Correio)
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