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‘Fiquei assistindo gente morrer’, diz baiano sobrevivente de terremoto no Nepal
O analista do[saiba_mais] (TJ-BA) que estava desaparecido depois do forte terremoto no Nepal, relatou, em entrevista neste domingo (3), um dia após chegar na Bahia, os momentos de drama que viveu no país asiático.
“Fiquei assistindo gente morrer. Tudo está destruído. O patrimônio histórico de Katmandu foi devastado. Não vi pá, os caras tiravam as pedras com a mão. Vi até macas de bambu”, relatou.
Manoel Ursino Tenório de Azevedo Junior, 52 anos, estava na Índia e chegou na cidade de Lumbini, no Nepal, no dia 24 de abril, um antes do terremoto. No deslocamento de ônibus entre Lumbini e Katmandu, a capital do país, a viagem de sete horas durou 25. Isso porque o terremoto começou quando o veículo em que seguia viagem fez uma parada para o almoço.
“Por volta de 12h, quando entramos na cidade de Narayamgham, paramos em um ponto de apoio para ônibus, não chega a ser uma rodoviária. Descemos para que todos pudessem almoçar. A maior parte era nepalês – de estrangeiros, só tinham eu e um [norte] americano. Não almocei, fui em uma lanchonete e pedi um lanche. Sentei do lado de fora, na varanda, e quando abri o refrigerante senti uma pressão que vinha de baixo para cima e, como já tinha vivenciado um terremoto no Chile, a ficha caiu logo e eu comecei a correr. Voltei para o local onde o ônibus estava estacionado. As pessoas começaram a correr também, gritar e caíram no chão”, relatou.
De acordo com Tenório, o agravante da viagem de ônibus foi que, após o tremor, pedras grandes caíram na estrada, atingiram carros e bloquearam a pista. “Sentimos o terremoto diminuindo e, quando parou, seguimos viagem. Na estrada, cerca de 20 minutos depois que saímos, teve outro tremor dentro do ônibus. Quando começamos a nos aproximar de Katmandu, o trânsito estava tumultuado porque pedras grandes tinham caído na estrada, atingiram carros e tinha gente ferida. A cerca de 130 km da capital do Nepal, o motorista parou e disse que não ia seguir viagem. Dormimos na estrada. De um lado, um precipício com um rio tipo um canyon, do outro, uma montanha de onde estavam descendo as pedras. Entrei no ônibus coloquei o cinto e pedi ao Pai proteção”, contou.
Tenório revela que, apesar do forte terremoto, o que causa medo na população do Nepal são os tremores mais fracos que acontecem o tempo todo. “O que as pessoas sabem aqui no Brasil é que teve um forte terremoto, mas lá a situação é diferente, tem tremores mais fracos o tempo todo e as pessoas estão apavoradas”, comenta.
O analista, que saiu de Lumbini no sábado (25) e estaria em Katmandu no mesmo dia, só conseguiu chegar na capital nepalesa às 8h do domingo. Ainda assim, ele precisou esperar quatro dias para deixar o país, pois a passagem para Nova Délhi, na Índia, estava marcada para quarta-feira (29). “Cheguei no hotel, tomei um banho, mas não era ideal que eu ficasse na parte de dentro. Passei o domingo no estacionamento do hotel, tremeu todos os dias que passei por lá. Na segunda, foi o dia que consegui falar com minha mulher. A ligação caía, ela estava desesperada, mas eu disse a ela: ‘o importante é que eu estou vivo’, lembrou.
No dia da viagem para o Brasil, na última quarta-feira, Manoel Tenório disse que ficou com medo de acontecer algum imprevisto e o trajeto não acontecer. Ele relatou que só entrava no aeroporto quem tinha passagem e o local foi isolado pelo Exército. “Quando o cartão de embarque saiu, pensei: ‘estou no céu’. Me confirmaram que o voo estava mantido, mas que não sairia no horário marcado, pois a prioridade era o pouso das aeronaves do Exército com comidas e remédios”, conta. “Minha mãe até hoje não sabe o que eu passei. Disse apenas que fui pra Índia, mas, como ela é idosa, tem 85 anos, todos ficaram com medo de contar, inclusive eu. Eu estou rouco, peguei muita poeira, mas estou feliz por ter voltado para casa”, apontou o analista. G1 Bahia
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