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Cidade Antiga

Vista aérea da Praça 27 de Julho e Praça Dr. Xavier, fins da década de 50

Durante muito tempo os nossos pesquisadores se centraram apenas na história administrativa ou econômica do nosso município e em fatos grandiosos que fazem alusões a mitos, heróis, grandes vultos, recheado de nomes de pessoas importantes e de datas e não se refere a uma outra história tão importante quanto qualquer uma. Esqueceram da história que está acontecendo em cada momento, em todos os lugares, a que é feita por qualquer um, pelo povo, nem por isso menos importante. Esqueceram da cultura popular que marca fortemente a nossa História Social em nosso município. Muita coisa que aconteceu em outros tempos contribuiram para termos a cidade que conhecemos hoje. Alguns aspectos como o candomblé, cabarés, cinema, trem-de-ferro, festas populares e tantos outros.

 

A cidade de uma rua só: desenvolvimento urbano I

A Enchente de 14 foi uma das responsáveis pela mudança no aspecto da cidade. Naquele período, Ubaitaba (ainda como arraial de Tabocas) era uma cidade de uma rua só, com um pequeno núcleo urbano seguindo o leito do rio. A partir da enchente, as pessoas passaram a se preocupar mais com a proteção das casas e começaram a construir mais afastado do rio e o arraial foi tomando outros rumos e novas ruas começaram a surgir.

Até 1930 desenvolve-se o que hoje conhecemos hoje como centro da cidade. Surgiu a rua do Zinco (atual avenida Presidente Vargas), Praça João Pessoa (atual praça 27 de Julho, a principal da cidade). De meados de 30 para cá, o casario começa a crescer na avenida Presidente Vargas e surge à parte central dessa avenida (do fórum até o posto de gasolina), naquela época esse trecho era conhecido como “Cachorro Assado”, além dessa área desenvolve-se também a Praça 24 de outubro, (posterior praça da Bandeira e atual praça Dr. Xavier).

Os divertimentos

Carnaval

Até a década de 30, Ubaitaba, ou melhor, Itapira, já possuía algumas festas tradicionais em sua maioria, extinta. Quem ia a praça João Pessoa aos domingos podia apreciar as tradicionais cavalgadas que divertiam a população. Os cavaleiros se exibiam em possantes cavalos e ficavam a demonstrar suas habilidades com o animal. Cavalo era assunto certo nas rodas masculinas e os cavaleiros nas conversas femininas. Com o desenvolvimento do futebol em Itapira, de 1917 em diante, a cavalgada foi perdendo espaço até sumir quase por completo em 1930. Daí para cá somente alguns cavaleiros mantiveram a tradição que passou de pai para filho e até 1980esse esporte ainda era comum na cidade, e na atualidade pouquíssimas pessoas ainda praticam. Uma outra festa tradicional também extinta foi o 2 de Julho.

O 2 de Julho

Comemorado em Itapira até 1929 esse festejo homenageava o dia Independência da Bahia. Começava pela tarde e ia até a noitinha. Faziam um carro de madeira, onde uma menina morena com feições e trajes de índia ia sentada em um trono sobre o carro. Um grupo de rapazes puxava esse carro pelas principais ruas da cidade, e outro, normalmente professores e demais intelectuais, falavam sobre a importância da data nos diversos locais por onde passavam.

Uma filarmônica animava a multidão que brincava e dançava o tempo todo. Nesse dia era comum acontecer uma cavalgada. À noitinha os participantes seguiam para suas casas, encerrando os festejos do 2 de Julho.

A população itapirense bem que sabia comemorar, naquela época, até meados de 40, tínhamos, além do tradicional Terno de Reis que era conhecido como “Baile Pastoril”, outros dois festejos populares, “A Burrinha” e o “Bumba-meu-boi” que completavam o terno.

 

A Burrinha

O povo se emocionava correndo atrás da burrinha que dava coice e pulava adoidadamente por toda a Itapira. “A Burrinha” na verdade era um homem vestido numa armação de madeira coberta de pano e algodão e uma sela fictícia, com uma mão o homem segurava a rédea e com a outra o chicote. O povo ficava adorava brincar com a Burrinha, a criançada ficava eufórica quando via aquele homem vestido naquela fantasia fazendo aqueleas palhaçadas.

A animação ficava por conta de alguns músicos locais como Florisval Ramos e Antonio Moraes. Faisqueira também tinha essa tradição. “A Burrinha” durou até 1926.

O Bumba-Meu-Boi

A nossa cidade também teve o bumba-meu-boi. Durou até 1934. Esse festejo era muito popular na cidade antiga, aliado a Burrinha e o Baile Pastoril ele era uma sensação. O povo gostava de ver aquele boi correndo atrás das pessoas pelo meio da rua. O boi, que segundo a lenda, perdeu a língua para satisfazer o desejo da mulher grávida, parece que ficava furioso no meio da multidão e saía acertando todo mundo por onde passava. Para quem estava na rua era preciso ficar atento.

Aquela armação pesada de madeira, recoberta de pano e chitão, aperfeiçoada para ter a forma de um boi, durante a festa parecia leve. O homem que ia ali embaixo aparentemente ficava mais forte agüentando aquilo e ainda correndo a noite inteira, sem contar o vaqueiro que ia guiando e domando “o animal” a chicotadas. Na verdade não era pra bater com o chicote não, só ameaçar, mais de vez em quando o vaqueiro errava e batia mesmo, era divertido, nos conta Aniceta, 92 anos.

 

Baile Pastoril

O Baile Pastoril, ou Terno de Reis em Ubaitaba se confunde com a própria história da cidade, provavelmente iniciou-se com a chegada do primeiro curato da igreja Católica na cidade. Era comemorado entre os dias 6 e 20 de janeiro de cada ano. O evento acontecia todos os anos até 1925. Desse ano em diante o Baile Pastoril decaiu e quase desapareceu. Podemos dividir esta festa em quatro períodos.

Terno de Reis: a mais antiga tradição existente até hoje.

O 1º foi do surgimento até 1925. Nessa época, Baile Pastoril tinha uma repercussão muito grande, era, ao lado do Carnaval, a festa mais importante no local. O Baile era formado por duas filas, uma de rapazes e outra de moças que seguravam caramanchões de onde pendiam inúmeras lanternas. Variavam muito as apresentações de ano para ano. Normalmente os festejos estavam ligados às comemorações da igreja Católica.

Mi-Careme

Talvez o nome soe estranho, mas era assim que se chamava os Micaretas de tempos atrás. Apesar de usarem caretas, todos queriam mesmo era ser reconhecidos como o destaque dessa festa. Nesses dias, era aquele fuzuê para vê quem conseguiria ser o cordão mais bonito, mais animado, a melhor prancha, escola de samba, melhor torcida, a mais organizada. Enfim, todos queriam aparecer na Micareta.

Micareta 1964

Trio Elétrico

Fonte: Aleilton Oliveira in Traços e Retratos da Nossa História, 2004/2010.

 

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