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Ubaitaba: Baiano Figueroa Conceição faz história na África

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Técnico da seleção brasileira feminina de canoagem e fora da Rio-2016, já que a modalidade só terá mulheres nos Jogos em Tóquio-2020, o técnico baiano Figueroa Conceição recebeu um desafio do presidente da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), João Tomasini: treinar dois atletas da africana São Tomé e Príncipe em busca de uma inédita participação do país em uma Olimpíada.

Baiano faz história na África

Figueroa Conceição (de mochila); no pódio, Bully e Altamiro (com braço na tipoia), e Mussá e Joaquim

E o acordo de cooperação entre as duas nações deu um fruto para entrar na história: após somente um ano de preparação, o treinador fez o canoísta Bully Afonso, 23, baixar seu tempo na categoria C1-1000 (de 1 km) em 23 segundos na seletiva olímpica africana, ocorrida no último sábado, na África do Sul, e carimbar a primeira vaga do país no maior evento esportivo do planeta.

“O que o Figo [apelido de Figueroa] fez foi um milagre. Acho que ele ainda não tem uma ideia do que isso representa para o nosso país, que hoje está em festa e tem ele como um herói nacional. É a primeira vez que a bandeira de São Tomé e Príncipe estará em uma Olimpíada”, explica o entusiasmado João Costa Alegre, que é presidente do Comitê Olímpico de São Tomé e Príncipe e da Confederação Africana de Canoagem.

E por pouco o ‘milagre’ não veio em dobro para o país. O barco do C2-1000, remado também por Bully Afonso, em parceria com Altamiro de Ceita (outro que veio ao Brasil treinar com Figueroa), perdeu a vaga na Rio-2016 por um milésimo de segundo, após Ceita se contundir na reta final (ele finalizou a prova, mas terá de passar por uma cirurgia após um grave estiramento no músculo do braço).

Figo classifica Moçambique

Mas, se a ‘graça’ dobrada não aconteceu para São Tomé e Príncipe, ela veio para o ubaitabense: quem ganhou a vaga de Bully e seu parceiro foi justamente a dupla Joaquim Lobo, 23, e Mussá Chamaune, 25, de Moçambique, também treinada por Figo. “Eles chegaram depois e tivemos apenas seis meses de treino. Fiquei muito sentido pelo que aconteceu com o Altamiro, mas fiquei igualmente feliz e orgulhoso por Joaquim e Mussá”, diz o baiano, que também fez os Moçambicanos superarem seus recordes em mais de 20 segundos. “Os tempos deles [agora de 4m37s, no C1-1000, e 4m16s, no C2-1000], em nível mundial, não são fortes ainda, mas são ótimos para a África. Sabíamos que tínhamos uma chance de ir à Olimpíada”, completa Figueroa.

A vaga para Moçambique também é histórica: foi a primeira da canoagem do país, que é até aqui a única modalidade fora do atletismo a carimbar passaporte na Olimpíada Rio-2016. “É uma festa da lusofonia, porque são dois países lusófonos que vão aos Jogos e que serão sediados pela primeira vez por uma nação que fala português. Só temos a agradecer ao Figo e ao João Tomasini, que embarcaram com a gente nessa aventura e nos deram essa oportunidade”, comenta João Costa Alegre, que quer ‘roubar’ o baiano para trabalhar em solo africano. “Todos na África ficaram impressionados com o desenvolvimento do esporte em tão pouco tempo”, completa o dirigente.

Figueroa, que será recebido em breve, em audiência, pelo presidente de São Tomé e Príncipe, desconversa sobre o convite. “Fico lisonjeado, mas hoje estou muito feliz na CBCa. Vamos ouvir a proposta, mas meu foco agora é a Rio-2016”.

Revelador de Isaquias Queiroz, Figueroa comanda seleção feminina desde 2014


Erlon (de preto), Figueroa (centro) e o pequeno Isaquias, abraçados à beira do Rio de Contas, em 2006 (Foto: Figueroa Conceição | Arquivo Pessoal)

Filho de Ubaitaba, Figueroa Conceição, 30, começou cedo na canoagem, aos 11 anos. Treinava sob a tutela do professor Jefferson Lacerda, conterrâneo presente nos Jogos Olímpicos de Barcelona-1992. Mesmo dedicado, sua carreira de atleta não decolou, mas o dom de ensinar e o conhecimento técnico do esporte rapidamente o levaram a uma direção que mudaria sua história: seria, a partir dos 20 anos, treinador.

Foi em 2005 que chegou a Ubaitaba, por meio do Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, destinado à formação de atletas pela Confederação Brasileira de Canoagem  (CBCa) em parceria com a prefeitura local. O projeto, que existe até hoje e atende 150 crianças e jovens, é responsável hoje por grande parte das seleções adulta e de base, e revelou o fenômeno Isaquias Queiroz, campeão mundial e favorito ao ouro no C1-1000 na Rio-2016.

Figueroa era um dos instrutores do projeto e sua carreira alavancou após a descoberta de Isaquias e outros pupilos, como Erlon de Souza, que também vai à Rio-2016 ao lado de Isaquiais na C2-1000 (veja eles ainda muito jovens, em 2006, na foto abaixo). Muitos bons resultados vieram e, em 2014, foi convidado pela CBCa para assumir o cargo de técnico de canoa das categorias Júnior, Sub-23 (homens e mulheres), além da Sênior Feminino.

“A canoa faz parte do sangue de quem nasce em Ubaitaba [que significa, em tupi, cidade (taba) das canoas (Ubá)] e, de maneira geral, de toda aquela área no Sul da Bahia. Todos tivemos muita dificuldade de estrutura para chegar onde estamos,  mas, quando ela finalmente ficou pronta, e depois com o centro de canoagem no Paraná e a vinda dessa lenda e mestre do esporte, que é o técnico Jesus Morlan [espanhol], mostramos que podemos ser uma potência”, comenta Figo, apelido pelo qual é conhecido no esporte.

Orgulhoso dos resultados de seus pupilos – nacionais e, agora, estrangeiros –, Figueroa não esquece de suas raízes e divide a alegria com a avó, falecida no ano passado. “Ela sempre me acompanhou e é uma pena que não está aqui para ver esse momento tão feliz, e também a Olimpíada. Mas sei que ‘Ubacity’ está vendo tudo de pertinho torcendo muito, e mando um abraço para todo mundo lá”. (A Tarde Uol)

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