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Eleições 2018

Calejados, candidatos à presidência fazem quinto debate equilibrado

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Não houve saia justa no quinto debate entre os candidatos à Presidência da República. Mesmo questionados diretamente sobre questões incômodas, como a demora para a conclusão de obras em São Paulo, no caso do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), ou as visitas semanais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia, no caso de Fernando Haddad (PT), os presidenciáveis que se encontraram nos estúdios do SBT nesta quarta-feira souberam desviar habilmente das cascas de banana jogadas por seus adversários e pelos jornalistas que participaram do debate. Apenas o deputado Cabo Daciolo (Patriota-RJ) saiu do script, e talvez por isso tenha voltado a se destacar entre os colegas.

 

Apesar de ter perdido mais um debate por estar hospitalizado, o líder das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), frequentou as discussões principalmente pelas bocas de Guilherme Boulos (PSOL) e de Alckmin, que não chegou a se referir diretamente a seu nome. Já os maiores ataque ao PT de Haddad partiram do senador Alvaro Dias (Podemos–PR), de Alckmin e de Marina Silva (Rede), em especial quando foi ligada ao Governo de Michel Temer pelo petista em pergunta sobre o teto de gastos e a reforma trabalhista.

Ciro Gomes (PDT), em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, finalizou sua participação no mais curto dos debates até agora, de apenas três blocos, criticando o voto útil para Bolsonaro ou PT. Ao dizer que “o Brasil não aguenta mais essa polarização”, o ex-governador do Ceará pediu uma chance no segundo turno: “Todas as pesquisas mostram que eu ganho do Bolsonaro ou do Haddad no segundo turno”. Questionado sobre possíveis apoios de PT e MDB em seu Governo, Ciro disse que “se puder governar sem o PT, eu prefiro” e poupou apenas três nomes do MDB: o senador Roberto Requião (PR), o deputado Jarbas Vasconcelos (PE) e Mauro Benevides, um dos coordenadores de seu programa econômico. Segundo ele, o PT se transformou em “uma estrutura de poder odienta” que gerou Bolsonaro.

Alckmin, que ainda almeja um lugar no segundo turno, reforçou o coro de Ciro ao defender que o PT não pode voltar, “nem o candidato da discriminação”. Quando não estava tentando minar a candidatura Bolsonaro ou fazendo críticas ao PT, Alckmin chamou atenção para os feitos de seu Governo em São Paulo e pautou o debate sobre saúde e moradia. Ao ser questionado por Boulos sobre a máfia da merenda e o fechamento de escolas, o tucano disse que o esquema de fraude na compra de merenda foi desmontado pelo seu Governo e, em crítica ao adversário do PSOL, destacou que nunca invadiu propriedades — uma alfinetada que Henrique Meirelles (MDB) usou nos últimos debates para se defender dos ataques de Boulos.

Meirelles, aliás, também chamou atenção para seu próprio currículo, de ex-ministro da Fazenda e de presidente do Banco Central durante o Governo Lula, e voltou a prometer a criação de 10 milhões de empregos. Ele corrigiu Daciolo ao ser chamado de banqueiro — é “bancário” — e se defendeu das críticas de Alvaro Dias sobre os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos últimos governos. “Recuperamos muitos empréstimos, inclusive [dados] para outros países, como a Venezuela”, disse, em relação a sua participação no Governo Temer. Ao ser questionado sobre se daria um cargo a Temer em seu governo, contudo, Meirelles desconversou e disse que é “ficha limpa”.

Alvaro Dias, por sua vez, reforçou seu discurso de combate à corrupção e refez críticas ao PT, que ele chamou de “organização criminosa”. Ao questionar Haddad, ele mencionou o plano para isentar de imposto de renda quem ganha menos de 5.000 reais por mês. “Você, que chegou como representante do preso que está em Curitiba, diz que fará a mesma coisa. Por que não fizeram antes?”, questionou. Perguntado sobre moradia por Alckmin, o senador mencionou o plano de entregar a documentação de 5 milhões de imóveis irregulares em favelas e na área rural, aludindo a seu vice, o economista Paulo Rabello de Castro. Dias terminou suas considerações finais anunciando que iria a Itaquera assistir à partida entre Corinthians e Flamengo, que jogam pela semifinal da Copa do Brasil.

Propostas

Marina Silva foi a que resumiu melhor suas propostas, ao mencionar programas específicos, como o Vida Digna, que prevê a abertura de 2 milhões de vagas em creches, e o Renda Jovem, que tem a intenção de combater a evasão escolar e garantiria a cada estudante que terminar o ensino médio 3.600 reais. Ela prometeu lançar o programa no Piauí nesta quinta-feira. A candidata voltou a destacar o discurso de apelo ao eleitorado feminino, chamando atenção para o fato de que é era a única candidata à Presidência no debate, e finalizou sua participação de forma espirituosa: “Quando tem bagunça dentro da família, ninguém chama o Meirelles, chama uma mulher corajosa”.

Haddad usou seu tempo para prometer emprego e a volta do crescimento, além de lembrar seu tempo como ministro da Educação do Governo Lula, criticar o PSDB e os adversários que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff. Questionado sobre se Lula é seu “posto Ipiranga”, numa alusão do jornalista Fernando Canzian ao economista Paulo Guedes, avalista no mercado da candidatura Bolsonaro, Haddad disse que ele é o candidato agora. “Toda aliança que eu vier a fazer no meu governo terá um pressuposto: os deputados e senadores concordam com aquela plataforma?”, disse, em referência ao seu programa de governo.

Já Guilherme Boulos concentrou suas intervenções em ataques à gestão Alckmin em São Paulo e de Temer no Palácio do Planalto. Questionado sobre a possível realização de plebiscitos sobre temas relacionados a drogas, ele respondeu que o faria, mas não sem antes esclarecer para a população questões que, para ele, não estão bem explicadas no debate público. Boulos também mencionou a intenção de fazer “auditoria em corporações como a Kroton”, em referência à gigante de educação, e de aumentar o número de vagas no ensino superior público.

O debate só saiu do tom presidencial quando o deputado Cabo Daciolo apareceu. Fazendo menção à expressão utilizada por Ciro Gomes no primeiro debate presidencial, Daciolo disse mais de uma vez que “a democracia é uma delícia”. Foi Ciro, inclusive, seu primeiro alvo no debate: “O senhor ficou doente, correu para o Sírio-Libanês, por que não foi para um hospital público?”, questionou. Ciro, que passou por intervenção cirúrgica na próstata na quarta-feira, justificou a escolha dizendo que seu médico atende no Sírio-Libanês e aproveitou para mencionar seu programa para instituir prêmios para unidades de saúde que cumpram metas.

Daciolo também criticou o montante gasto na campanha via fundo eleitoral e fundo partidário, destacando que gastou apenas 700 reais em sua campanha, enquanto Meirelles desembolsou 43 milhões de reais. Questionado sobre cotas, o deputado disse que apoia a política e que não pretende fazer reforma na Previdência. Perguntado por Boulos sobre políticas para mulheres, Daciolo prometeu montar um ministério com o mesmo número de homens e mulheres e fez aceno a suas mãe e mulher: “Mãe, eu te amo, varoa, eu te amo”. Apesar de defender o voto impresso e dizer que “há fraudes nas urnas eletrônicas”, o candidato do Patriota profetizou a própria vitória em primeiro turno, com 51% dos votos. (Brasil.elpais

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