ENSAIOS E ENTRETENIMENTO
diz Nachtergaele ao lançar ‘Trinta’
Matheus Nachtergaele, 45 anos, fez mais de 25 filmes e personagens como o João Grilo, de “O auto da Compadecida” (2000), e o Cenoura, de “Cidade de Deus” (2002). Mas foi o diretor Paulo Machline que lhe deu seu primeiro grande protagonista.
A cinebiografia “Trinta”, que estreia nesta quinta (13), traz o ator no papel de um dos maiores carnavalescos do Brasil, Joãosinho Trinta, que morreu em 2011 em São Luís, no Maranhão.
“O filme é uma homenagem a todo brasileiro que vem de longe. Sem grandes confortos financeiros e consegue vencer na vida através do próprio esforço. Acima de tudo ele era um guerreiro. O próprio fato dele ter adquirido tanta cultura ao longo da vida já foi uma espécie de batalha”, diz Nachtergaele, em entrevista ao G1. “Toda obra de arte bacana traz no seu interior um pedido político e humanista, e isso existia em todos os desfiles do Joãosinho. Todos tinham pedidos políticos fortíssimos”, lembra.
“Trinta” começa na década de 1960, quando o maranhense João Clemente Jorge Trinta vira bailarino do Teatro Municipal do Rio, mas, frustrado com a dança, decide trabalhar na montagem de óperas. Ele conhece o cenógrafo Fernando Pamplona (Paulo Tiefenthaler), que o chama para ser assistente no barracão da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, e fica conhecido como Joãosinho das alegorias.
Em 1973, Pamplona sai do Salgueiro e Trinta é chamado para assumir o desfile do próximo ano. O longa foca na criação do enredo “O Rei de França na ilha da assombração”. “Por causa do filme, aprendi como funcionava a montagem de um Carnaval num barracão. A escolha do samba, dos destaques e como o Joãosinho via isso tudo. Ele importava a estrutura de um espetáculo de ópera”, afirma o ator.
Polêmica com Cristo Redentor
Apesar de ter esse recorte, a trama lembra do desfile “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”, de 1989, em que Joãosinho arranjou briga com a Igreja Católica ao colocar a imagem do Cristo Redentor como mendigo em um dos carros alegóricos. Sua famosa frase “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual” também aparece no longa.
“Nunca posso me esquecer dos mendigos desfilando na avenida. É uma postura muito política. Quando eu estive com ele rapidamente, uma vez só na vida, me chamou a atenção o fato de ele acreditar que a única revolução possível do ser humano se daria através da alegria, do êxtase coletivo. A gente procura fazer modificações através de guerras e de violência e talvez a única modificação seja na igualdade que a alegria da festa traz. Nesse momento somos todos iguais. O ato do Carnaval em si é revolucionário”, diz Nachtergaele. (G1)
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