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Veja a repercussão da decisão do Copom de elevar os juros para 11,25%
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de elevar a taxa básica de juros da economia brasileira de 11% para 11,25% ao ano, surpreendeu a maioria dos economistas, que esperavam a manutenção da taxa. Foi a primeira elevação desde abril deste ano.
Os economistas ouvidos pelo G1 avaliam que o Copom pode ter tomado a decisão tendo em vista a perspectiva de que a inflação virá a sofrer novas pressões com o possível aumento do preço dos combustíveis – que vem sendo aventado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega – e da alta de preços administrados nos próximos meses.
A maioria das entidades do setor produtivo e sindicais criticaram a decisão do BC. Segundo essas entidades, a elevação da taxa de juros pode contribuir para reduzir ainda mais a atividade da economia – que entrou em recessão técnica no segundo trimestre deste ano – e podem ameaçar a criação de empregos.
A voz dissonante veio da Fecomercio-SP, entidade que representa o setor de comércio paulista, que aprovou o aumento afirmando que mostra que “a autoridade econômica está preocupada com a inflação”.
A decisão acontece em um momento de fraca atividade econômica, embora a inflação em doze meses até setembro tenha somado 6,75% – acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
Veja a repercussão:
Natalia Cotarelli, economista do Banco Indusval & Partners (BI&P)
[A decisão] Surpreendeu bastante. O mercado apostava que fosse manter os juros. O BC vinha com todo um discurso de que o IPCA iria convergir para a meta de 4,5%, então a expectativa era que mantivesse. O que ele [Copom] destacou no comunicado [em que anunciou a alta de juros] que entre outros fatores foi a intensificação dos ajustes de preços relativos. Então o câmbio deve estar relacionado com isso, o câmbio vai impactar na inflação. Tem outros preços que devem subir nos próximos meses, que estão defasados, represados, então acho que esses dois fatores levaram o Copom a subir. E é também o choque de expectativas, significa que o Banco Central está comprometido com a meta de inflação.
Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina
Eu fiquei surpreso [com a alta de juros]. Na situação atual você aumentar a taxa de juros é uma situação bastante complicada. O que eles olharam é a perspectiva que o IPCA-15 trouxe de uma meta de inflação ser extrapolada. O BC tem como premissa trabalhar com 4,5% com margem de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Mas acabou surpreendendo como o IPCA acabou acelerando (…). Isso fez com que infelizmente o BC elevasse a taxa de juros para forçar uma redução da inflação. Eu vejo isso como uma decisão arriscada. Porque nós estamos como problema das indústrias que estão perdendo competividade, o crédito fica mais caro, isso pode fazer com que as indústrias tenham uma perspectiva pior na produção e mesmo de financiamento para suas operações. Isso acaba desestimulando a produção das indústrias e fazer com que percam mais competitividade. A presidente Dilma já abriu o jogo do aumento do combustível, e já pode ter um indicativo de que vai pressionar mais a inflação. Isso também pode ser mais um motivo, com flexibilização dos preços administrados, que estava represado, vai colaborar com a alta da inflação.
Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT
O crescimento econômico já está baixo e os juros, altos. E agora com a elevação da Selic, emperra ainda mais o crescimento. Mais uma vez o Banco Central desperdiçou uma boa oportunidade para retomar o bom caminho da redução da Selic e, com isso, forçar uma queda maior dos juros e dos spreads dos bancos, a fim de baratear o crédito e incentivar o emprego, o desenvolvimento e a distribuição de renda.
FecomercioSP
Para a FecomercioSP, a decisão foi correta, pois a Entidade não está plenamente convencida de que o risco do IPCA ficar acima da meta tenha sido realmente eliminado. (…) Ao elevar a Selic em 0,25%, a autoridade econômica demonstra agir com prudência, o que a Entidade considera positivo. Além disso, o governo sinaliza que já compreendeu as preocupações dos mercados, dos investidores e dos analistas e indica que vai promover mudanças na condução econômica, conforme previa a FecomercioSP.
Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)
O aumento da taxa Selic revela que predominou, na reunião do Copom, a preocupação com a inflação, apesar do baixo nível da atividade econômica. Isso poderá contribuir para uma desaceleração ainda maior da atividade econômica. O que se espera, agora, é que o governo anuncie um ajuste fiscal crível e rigoroso que permita ao BC reduzir novamente os juros em sua próxima reunião.
Paulo Skaf, presidente da Fiesp
Colocar toda a responsabilidade do combate à inflação na taxa de juros vem se mostrando uma estratégia equivocada, uma vez que está pondo em risco o maior patrimônio da economia brasileira atual, que é o emprego (…). Está cada vez mais evidente que o modelo atual se esgotou. O Brasil precisa urgentemente de uma nova política econômica, baseada no controle do gasto público, para que possamos obter baixa inflação e alto crescimento econômico.
Fecomercio RJ
O Copom parece não ter dimensionado bem o momento vivido pela economia doméstica ao elevar os juros básicos. Diante dos comportamentos recentes da atividade econômica, das contas públicas e dos índices de preços, o Banco Central preferiu não reconhecer a limitação do arrocho monetário como estratégia de controle da inflação a todo custo. Mesmo porque a alta dos juros já cumpriu seu papel na ponta. (…) O aumento da Selic prejudica, portanto, o reaquecimento da economia e a saúde das finanças públicas. (G1)
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