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Brasil descobre o DNA da cocaína consumida no país

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Com base em análises químicas, projeto da Polícia Federal revela que a maior parte da droga vem da Bolívia e é vendida misturada com analgésicos e vermífugos para animais.

Polícia Federal

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Agentes da Polícia Federal patrulham o Rio Paraguai em Corumbá, município do estado de Mato Grosso do Sul, na fronteira com a Bolívia. A maior parte da droga consumida no Brasil vem do país vizinho. (Yasuyoshi Chiba/AFP)

RIO DE JANEIRO, Brasil – A maior parte da cocaína consumida no Brasil vem da Bolívia (60%), Peru (30%) e Colômbia (10%), de acordo com a Polícia Federal (PF).

A droga é vendida misturada a diversas substâncias, como analgésicos e vermífugos para animais.

O DNA da cocaína tem sido descoberto graças ao projeto Perfil Químico de Drogas (PeQui), da PF.

O PeQui permite que os policiais tracem o perfil químico da droga apreendida no país, descobrindo sua origem geográfica, os produtos utilizados na composição, condições de transporte, caminho percorrido e, em alguns casos, até o cartel responsável.

“Graças ao PeQui, é possível fazer estratégias de combate às drogas com os países envolvidos, descobrir tendências de rotas e focar nas principais portas de entrada de drogas no Brasil”, diz o delegado Oslain Campos Santana, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF.

O PeQui utiliza o cromatógrafo, equipamento que separa e identifica os componentes de amostras; um grande banco de dados de DNA de drogas, e peritos criminais do Laboratório de Análises Químicas do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF, em Brasília.

A PF mantém laboratórios forenses em todos os estados, e quase todos já contam com um cromatógrafo.

No dia-a-dia, o equipamento é usado para identificar componentes de substâncias, principalmente drogas, para auxiliar a PF em investigações.

Apenas quando há uma apreensão de mais de 5 kg de cocaína ou crack uma amostra da droga é despachada para Brasília para análise pelo PeQui.

“As ciências forenses vêm ganhando significativo espaço nos últimos anos”, diz Celso Trindade, analista do Departamento de Tecnologias Aeroespacial e de Defesa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Novos equipamentos e metodologias de análise têm propiciado um avanço na elucidação de crimes.”

A Polícia Federal usa o cromatógrafo (acima) para separar e identificar os componentes de amostras de drogas e descobrir de onde ela vem e como é produzida. (Cortesia da Polícia Federal)

Além de ajudar a traçar políticas de combate às drogas, o PeQui pode revelar conexões entre quadrilhas e fornecedores e render punições mais rigorosas para traficantes.

“Não é uma garantia de condenação porque há todo um rito legal, mas é mais uma prova juntada ao processo que pode ajudar a comprovar o envolvimento do suspeito no tráfico de drogas”, diz o perito criminal federal Adriano Maldaner, do INC.

Para ele, o caso mais emblemático desse uso ocorreu há um ano, quando a PF estava monitorando quadrilhas nos estados de Goiás, Ceará e Pará.

Os investigadores acreditavam que essas quadrilhas eram grupos distintos, mas a análise química mostrou que a correlação entre as amostras apreendidas e as quadrilhas era de 99,8%. Ou seja, todas as drogas tinham a mesma origem e haviam passado pelos mesmos processos de refino.

Os envolvidos foram condenados por associação ao tráfico e receberam penas mais severas. Também foi possível desvendar uma rota internacional e provar que um homem preso com apenas 1 kg de cocaína era o chefe da quadrilha, tendo sido responsabilizado pelo tráfico de centenas de quilos da droga.

“Junto com outras provas, como gravações telefônicas, o perfil químico ajudou a reforçar que esses subgrupos eram, na verdade, um grupo só”, diz Maldaner.

Parceria com a ONU

O projeto começou a ser elaborado em 2005 e foi iniciado em 2009. Hoje, o PeQui mantém parcerias internacionais com países vizinhos como Bolívia e Paraguai, além de instituições como o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e a DEA, agência americana de combate às drogas.

“Hoje em dia, a questão das drogas é internacional, o que faz com que a troca de informações e capacitações seja fundamental”, enfatiza Maldaner.

O PeQui faz parte, junto com laboratórios forenses de outros países, da International Collaborative Exercises (ICE), uma iniciativa do UNODC.

Quando mais de 5 kg de cocaína são apreendidos, uma amostra é enviada para análise no projeto Perfil Químico de Drogas (PeQui), da Polícia Federal, em Brasília. (Yasuyoshi Chiba/AFP)

O organismo da ONU envia amostras de drogas apreendidas em diferentes países, sem identificação, para testar a capacidade dos laboratórios.

Todos fazem a mesma análise e depois trocam informações.

“É uma maneira de os laboratórios terem uma comparação com outros, saberem como estão trabalhando e até que ponto estão sintonizados”, explica Maldaner.

Apoio no tratamento de dependentes

O projeto também revelou que a principal substância encontrada na cocaína em pó é um vermífugo chamado levamisol, utilizado na criação de bovinos, suínos e ovinos. Já na pasta-base o componente principal é a fenacetina, um antitérmico e analgésico proibido no país.

Essas substâncias diminuem o percentual de droga pura e aumentam o lucro dos traficantes.

A descoberta vem permitindo que o PeQui auxilie no tratamento dos dependentes químicos.

“A cocaína, mesmo pura, já é devastadora para a saúde”, diz Maldaner. “A situação é ainda mais dramática quando se descobre que não há nenhum controle sanitário.”

Maldaner explica que, em muitos casos, o dependente de cocaína apresenta sintomas de intoxicação não só da droga, mas dos outros componentes. Para analisar melhor os sintomas, os profissionais vinculados à saúde têm de conhecer a composição.

“Quando você passa mal, a primeira coisa que o médico quer saber é o que você ingeriu”, diz Maldaner. “No caso da cocaína, a pessoa não vai saber dizer o que tomou porque não sabe o que foi adicionado à droga.”

Por Nelza Oliveira para Infosurhoy.com

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