DE OLHO NO ESPORTE
Comentaristas acreditam em queda do Bahia e veem permanência do Vitória com otimismo
Tão próximos e ao mesmo tempo tão longe um do outro. Essa é a realidade que vivem Bahia e Vitória na Série A do Campeonato Brasileiro deste ano. Os dois times estão na zona de rebaixamento.
Por enquanto um depende apenas de si para escapar da degola, o outro está em uma missão quase impossível. Com 34 pontos, dois a menos do que a Chapecoense, adversário direto na briga contra a queda, o Vitória, primeiro time da zona maldita, enfrenta os catarinenses no próximo domingo (16), fora de casa e só depende de suas forças para se manter na elite.
Três pontos atrás está o Bahia, na vice-lanterna da competição. Embora esteja praticamente do lado do Leão, o tricolor depende de uma série de combinações para fugir da Série B em 2015. Uma projeção da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica que, para se livrar, o Esquadrão teria que vencer quatro e talvez ainda empatar um dos cinco jogos restantes, a começar pelo Corinthians, domingo, na Fonte Nova. Depois, Criciúma (fora), Atlético-PR (casa), Grêmio (casa) e Coritiba (fora). Ou seja, um verdadeiro milagre para o atual panorama.
Quem fica e quem cai
Com base nisso, os comentaristas Darino Sena, da TV Bahia; Elton Serra, da rádio CBN Salvador e o colunista Marcelo Sant’anna, do jornal Correio, analisaram as possibilidades da dupla Ba-Vi neste final de temporada e fizeram um apanhado do ano baiano no futebol. Entre as explanações, uma coincidência tomou conta das análises dos jornalistas: os erros de gestão na diretoria do Bahia.
Para Darino, é improvável que o Esquadrão fuja do rebaixamento e isso se deve, principalmente, as confusões envolvendo os mandatários no tricolor. “Eu não acredito na salvação do Bahia. O presidente Fernando Schmidt se cercou de pessoas com um conhecimento diferente de futebol, fez escolhas erradas para os cargos de gestão e está pagando por isso. É uma diretoria fraca. Trocas constantes refletiram no planejamento que foi muito mal feito. Foram contratados péssimos jogadores, que vieram parar aqui na Bahia com pouco critério. O Bahia, basicamente, está pagando pelos erros de gestão”, disse.
O comentarista da TV Bahia também criticou a gestão do Leão, mas ressaltou que o time terá menos dificuldade para se manter na elite. “O Vitória tem chances de se salvar, mas vai depender do desempenho nos próximos jogos. Se o Vitória não tiver competência para se impor diante de adversários do mesmo nível, aí merece o rebaixamento. Eu costumo dizer que o Vitória só vai cair se quiser”, analisou.
Inexperiência
Por sua vez, Elton Serra também não quis cravar quem cai ou quem fica, mas reconheceu a maior dificuldade para o Esquadrão e fez duras críticas aos cartolas do Fazendão.
“Uma diretoria totalmente inexperiente. No ano passado, a diretoria pegou um Bahia já montado. Não era um time ideal, era um time ruim, mas pegou o bonde andando e manteve o time na Série A. Quando teve a oportunidade de fazer um planejamento, não soube. O Bahia tem um time mal montado. A diretoria trouxe um técnico que não tinha tanta experiência — Marquinhos Santos — para segurar um grupo como o do Bahia. O grupo montado tinha um perfil diferente do perfil do técnico. Embora tenha sido campeão baiano, todos sabiam que existiam problemas na defesa, na criação e no ataque, mesmo assim não contrataram. Ficaram esperando um jogador — Romagnoli —, muito mais pensando no marketing, do que no futebol…”, pontuou.
“Salários atrasados, jogador se rebelando, diretor indo embora, mudanças constantes na diretoria de futebol, tudo isso refletiu no que o Bahia está passando hoje no campeonato. Para mim é uma situação (rebaixamento) quase que irreversível”, acrescentou.
Marcelo Sant’anna foi além e levantou estatísticas para acreditar de forma veemente na queda tricolor. “Eu acredito que o Bahia cai. São cinco pontos de desvantagem para o primeiro clube fora da zona, sendo que ainda perde nos critérios de desempate. Para mim é um clube que cai. São oito jogos sem vencer. É a pior sequência do atual Campeonato Brasileiro. Analisando esse aspecto técnico e se você olhar também o administrativo, não dá para enxergar como o Bahia vai se manter no campeonato. Treinador saindo, diretoria mudando, jogador sendo afastado. Além disso, o Bahia também tem o segundo pior ataque do Campeonato Brasileiro e é o pior mandante. Não tem como acreditar em algo factível para dizer que foge do rebaixamento. É muito difícil”, exemplificou.
Já sobre o Vitória, o colunista fez coro aos colegas e viu com bons olhos a permanência do Leão. “O Vitória define a permanência dele nas três próximas rodadas, porquê tem uma situação de três confrontos diretos, principalmente nas duas rodadas seguintes, quando pega a Chapecoense e o Coritiba. Não é uma situação confortável, mas não é desesperadora igual a do rival”, afirmou.
Contexto
A situação na Toca também foi analisada por Elton, mas o comentarista lembrou o campeonato de 2013 para contextualizar e citar os motivos da queda de rendimento do rubro-negro baiano. “O Vitória perdeu a mão quando terminou a temporada em quinto no Brasileirão. Poderia, pelo menos, repetir a dose ou não passar aperto, mas acabou montando um time totalmente diferente e perdeu tempo durante a parada para a Copa do Mundo. Além disso, tem o mau aproveitamento da base, que foi feito melhor no ano passado. Neste ano, só o José Welison conseguiu ser utilizado constantemente”, avaliou.
Na visão de Darino, as quedas de rendimento dos principais jogadores também atrapalharam muito as ambições do Leão. “O Vitória tinha uma base forte, que foi enfraquecida e a diretoria não teve capacidade de repor à altura. Além de continuar sofrendo com falhas defensivas, o Vitória foi prejudicado porquê jogadores que foram importantes no ano passado, caíram muito de rendimento neste ano. Ayrton e Juan foram dois deles. Também teve a lesão do Escudero. Enfim, o Vitória teve essas particularidades, mas no fim das contas pecou nos mesmos aspectos do Bahia. Excesso de jogadores contratados e problemas de gestão”, disse.
Ano difícil
Quando os comentaristas fizeram um apanhado do ano no futebol baiano, as críticas não saíram de cena. “Tudo é mais um reflexo de um ano triste de Bahia e Vitória, que na verdade é um retrato do que vive o futebol baiano. A campanha ruim da dupla é reflexo do que é feito na Bahia. A campanha do ano passado feita pelo Vitória é exceção, a regra são campanhas ruins, de não terem sucesso em competições nacionais. A Copa do Nordeste voltou há dois anos e o futebol da Bahia sequer chegou na semifinal, em nenhum dos dois anos. Então, nem na própria região o futebol baiano é mais protagonista”, finalizou Marcelo.
“Os clubes da Bahia não formam seus gestores. Aí o que é que acontece? Todo ano tem que trocar de gestor, porquê não formam pessoas que conheçam a realidade do futebol baiano, o mercado, os clubes. Trazem caras de fora que, normalmente, são indicados por empresários. Não há conhecimento da realidade local e algumas muitas vezes não existe compromisso com os clubes. Aí, ou querem dar uma redirecionada na carreira, ou recebem propostas de outros clubes e vão embora. O que falta ao futebol da Bahia é também investir na gestão, na capacitação de pessoal para desenvolver um trabalho de médio a longo prazo…”
“Bahia e Vitória estão aí há algum tempo brilhando nas categorias de base. O Vitória foi campeão da Copa do Brasil em 2012, o Bahia foi vice-campeão da Taça São Paulo em 2011. Estão sempre brigando. O Anderson Talisca acaba de ir para a Seleção. Tivemos três jogadores formados no futebol da Bahia na última Copa do Mundo (Hulk, Daniel Alves e David Luiz). Talento existe e saber garimpar esses talentos também sabemos. O problema está sendo na transição. Você não consegue absorver esses talentos, aí a gente volta para o mesmo lugar: problemas na gestão. A gestão do time profissional é mal feita. Quando se troca de diretor toda hora, você não tem aquele cara que conheça o que está sendo formado na base. É muito mais fácil trazer jogadores que, em tese, estão prontos, do que apostar nos garotos”.
“O Bahia tem três pré-candidatos à presidência e nenhum deles têm grande experiência em gestão de futebol. Isso é porquê não se forma. Os cargos estão sempre ocupados por questões políticas. O cara que é conselheiro, que é amigo do presidente, que vira diretor de Marketing, de Futebol… Mas você não tem aquele executivo da área, que se formou, fez curso fora, que vivenciou outras coisas. Enquanto o futebol baiano não repensar seu modelo de gestão, vai continuar sempre a mesma coisa”, resumiu Darino, que ainda citou a venda de Anderson Talisca no meio da temporada como um dos motivos para o fracasso tricolor no ano. (Ibahia)
Você precisa estar logado para postar um comentário Login