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União descumpre ordem judicial e não efetua pagamento para família de menina com câncer raro: ‘Corremos contra o tempo’
A União não cumpriu a ordem judicial que determinou o pagamento de cerca de R$ 1,9 milhão para uma menina de 11 anos ter acesso a um tratamento médico que não é oferecido no Brasil. Yasmin Bastos, de 11 anos, tem um tipo raro de leucemia e precisa de uma terapia, chamada Car-T Cell, para se curar da doença, que avança rapidamente.
A garota mora em Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, e desde 2015 luta contra leucemia linfoide aguda (LLA), um câncer considerado muito agressivo. Os pais dela criaram campanhas na internet para sensibilizar e mobilizar doadores, e tentar pagar pela terapia Car-T Cell, disponível nos Estados Unidos e em países europeus.
O custo do serviço é elevado, com valor estimado De cerca de R$ 3,5 milhões de reais. Por isso, o casal também procurou a Defensoria Pública da União (DPU), já que, segundo os médicos que acompanham o caso, essa é a única alternativa que pode fazer com que ela sobreviva.
O prazo para que o pagamento fosse feito pela União expirou no dia 1º de outubro e a menina precisa com urgência dar início ao tratamento, já que a doença tem avançado com rapidez. “Minha filha luta pela vida e nós corremos contra o tempo para que ela continue viva”, disse o pai, Nelson Nunes.
Yasmin está hospitalizada há uma semana em Salvador por causa de um desconforto respiratório, depois de ter sofrido um derrame pleural – quando se acumula líquido no pulmão. Esse é mais um reflexo da leucemia, conforme a família.
“Vou transparecer o sentimento mais puro de um pai: é de revolta, é isso que a gente tem no coração nesse momento. Estou aborrecido, estou angustiado. A gente não tem amparo do poder público. Tudo que a gente tem hoje é graças a Deus e à comoção que a campanha causou .
Até o dia 30 de setembro, a campanha virtual arrecadou pouco mais de R$ 2.464.689,84, correspondente a 70% do valor total, de R$3,5 milhões.
Nelson ressaltou que tem contado com apoio da Defensoria Pública da União (DPU) e com suporte oferecido pelo plano de saúde. No entanto, cobra resposta do governo federal, que deveria cobrir o restante do valor necessário para o tratamento, e espera que ele e a família “sejam respeitados, como cidadãos”
“Não estamos pedindo um favor. Estamos pedindo pelo direito de vida de uma criança que passou a vida lutando e quer continuar vivendo, mas não nessa luta louca. Quer viver de forma saudável”, desabafou o pai de Yasmin.
Campanha segue nas redes sociais para custear tratamento no valor de R$ 3,5 milhões — Foto: Reprodução/Redes sociais
Em nota, a DPU informou que, em razão da gravidade e dos riscos envolvidos, o defensor federal Daniel Maia Tavares requereu à Justiça, no último dia 20, que o governo federal arque com todos os custos via Sistema Único de Saúde (SUS). A Defensoria disse que já repassou à Justiça Federal o não pagamento da União à família da paciente.
Na decisão, a juíza federal Andreia Guimarães do Nascimento, da 3ª Vara Federal Cível de Feira de Santana, ordenou que, assim que a União deposite o valor, a Caixa Econômica Federal (CEF) proceda à transferência do montante para conta poupança da família, que deverá prestar contas após o retorno.
Os pais também foram informados que toda a operação pode custar ainda mais caro, chegando aos R$ 5 milhões. É que os médicos precisaram reconsiderar o tempo de tratamento, que pode ultrapassar os 30 dias previstos inicialmente. Além disso, ela precisa ir para os Estados Unidos em UTI aérea, que custa R$ 600 mil.
O valor da causa calcula possíveis variações no dólar, com o objetivo de garantir a despesa médica, farmacêutica e hospitalar, além de transporte, alimentação e estadia da criança e acompanhantes durante o tratamento.
Yasmin Bastos Nunes, de 11 anos, passou 30 dias internada e ainda necessita do tratamento fora do país — Foto: Reprodução / Redes Sociais
Yasmin vive uma rotina de idas e vindas em hospitais, por causa da doença. “A gente continua confiante na esperança que, em breve, ela vai fazer o tratamento. A gente continua na luta, correndo contra a doença”, disse a mãe de Yasmin, Viviane Bastos.
A mulher destaca que a leucemia tem progredido, e a filha não responde mais a quimioterapia. Yasmin luta há seis anos contra o câncer, que atinge o sistema imunológico e a medula óssea, mesmo após a realização de um transplante.
A terapia Cart-T Cell consiste em modificar as células do próprio paciente em laboratório e depois de modificadas essas células são inseridas novamente no paciente para destruir as células tumorais. Essa seria a única alternativa viável para a cura da garota.
(G1)