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ENSAIOS E ENTRETENIMENTO

Maitê Proença se inspira em experiências pessoais no seu novo romance

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João é feio, mas por algum motivo Stella o acha atraente. O sexo não é bom. Insosso. Mas as conversas entre os dois são bem-humoradas e inteligentes, pondera a bela e bem- sucedida atriz e escultora.

Foto: Simone Marinho/ Divulgação

Foto: Simone Marinho/ Divulgação

Os dois se falam basicamente por mensagens de celular, já que João foge de intimidade por telefone ou pessoalmente. Afinal, por que insistir em um relacionamento amoroso “difícil e avinagrado”, que “custa a desabrochar”, como reconhece a própria Stella? Aparentemente fadada ao fracasso, a história reserva algumas provocações ao longo do novo romance da atriz e escritora paulista Maitê Proença, 56 anos, Todo Vícios (Record/R$ 30/232 páginas).

Quarto da carreira de Maitê, o livro traz um toque autobiográfico. A narrativa alterna a perspectiva dos personagens  João e Stella – que por vezes assume a primeira pessoa para falar sobre “o assunto batido deste romance, uma estúpida história de amor”.

Em entrevista, por e-mail, a atriz fala sobre a inspiração de Todo Vícios, sobre as atuais relações virtuais, o seu amor à Bahia e sobre os projetos no teatro e na televisão. Nessa, Maitê apresenta o programa Extraordinários, do SporTV, vai começar a gravar a novela Alto Astral, da Globo/TV Bahia, e acumula papéis em tramas importantes como Dona Beija (1986) e Gabriela (2012). Na dramaturgia, tem três peças no currículo, sendo a mais recente À Beira do Abismo Me Cresceram Asas. Confira:

“Direi aos jornais que é tudo inventado e que mais relevantes são as subjetividades, as considerações, as entrelinhas e coisa e tal”. Em um trecho do livro, você tratou de se antecipar às perguntas inevitáveis, mas em entrevista recente assumiu um toque autobiográfico em Todo Vícios. Afinal, de onde veio a inspiração para esse romance?
Sim, já me relacionei com Joões. Meu protagonista é um tipo que conheço, criei-o misturando elementos, fatos, e dados de temperamento com os quais tenho intimidade. Stella também se parece comigo em algum momento de alguma história de amor.  Lamentavelmente.

Por que trazer Stella para perto da história real de Maitê?
Seria muito fácil transformar João em caminhoneiro e Stella em professora. E aí os óbvios diriam, “olha como ela é uma romancista de verdade, cria histórias totalmente inventadas”. Mas esta história não é sobre o que eles fazem, mas sobre o que sentem, o que fazem de seus sentimentos. Além disso,  eu acabo de girar o país com minha terceira autoria teatral, À Beira do Abismo Me Cresceram Asas. Dirigi também e fiz como atriz durante dois anos.  Minha personagem era uma velha de 86 anos, rural e simplória.  Eu precisava voltar pra mais perto. Também gosto do caminho complicado, pelo bosque escuro onde se encontra o lobo mau. É sempre mais provocativo.

Além de uma característica de João, o que significa o título Todo Vícios?
Só isso mesmo. Num dado momento, ao descrevê-lo, Stella percebe, “aquele homem era todo vícios”. João é um neurótico viciado em remédios reguladores de humor. Stella também tem personalidade doentia, viciada, ou não cairia na armadilha desse desamor. E ela mergulha.

Por que Stella tenta “salvar” o personagem da desordem? Qual é a mensagem por trás da relação confusa e improvável dos dois?
Não há mensagem.  Há uma complexidade, como em toda relação entre gente interessante. O leitor tirará suas próprias conclusões, espero.

A relação de Stella e João pode ser confundida com muitas outras atuais, onde as pessoas estão imersas no mundo virtual do WhatsApp e de redes sociais como o Facebook e o Instagram, que dão uma falsa sensação de intimidade. O que acha do relacionamento cultivado no mundo de hoje? O que acha das pessoas que vivem intensamente o mundo virtual como real e que esquecem da realidade à sua volta, do olho no olho, da simples contemplação? Por quê?
Se já era difícil quando as pessoas se encaravam, viam a postura do corpo, o tom da voz, o estado emocional, as hesitações e inseguranças, se com todos esses elementos a gente já se estranhava, imagine agora com três palavras escritas às pressas entre um afazer e outro.

Você não tem Facebook, certo? Por quê?
Se quiser falar com um amigo passo a mão no telefone e marco um encontro. Não me interessa a vida quotidiana de gente que não conheço.  Tenho uma fan page que não me dá acesso à página de ninguém.  Ali eu divulgo meus livros, peças, mostro fotos de viagens, como a que fiz agora para o Sri Lanka, divido momentos selecionados com gente que me segue há 30 anos e gosta de mim.  A fan page leva para meu instagram e para o site que contêm entrevistas antigas e atuais, vídeos, fotos de todas as épocas, agenda, calendário, etc.  Tudo que possa ser útil para quem precisa de info sobre a pessoa pública.

Além de Todo Vícios, você continua fazendo parte do Extraordinários e vai começar as gravações da novela Alto Astral. Fale um pouco sobre os próximos projetos. Com será sua participação na novela?
Extraordinários foi criado só para a Copa, mas deu muito certo e seguirá mais este ano inteiro.  Estou muito bem cercada e o programa é divertido porque é anárquico.  A personagem da novela foi embora de sua cidadezinha quando era jovem em busca de um marido rico.  Encontrou vários. Agora volta da Europa falida, mas sem deixar cair a pose.  Acaba caindo na própria armadilha porque vai se apaixonar por um rapaz oportunista que lhe dá o golpe imaginando que está bem de vida.  Ela também tem um envolvimento misterioso com a trama central.

Como é ser a única mulher do Extraordinários? Você gosta de futebol? O que mais gosta em sua participação no programa?
Os rapazes são inteligentes e informados, lidos. Todo mundo é irreverente e pouco correto.  É delicioso poder sair da mesmice num momento tão entupido de gente que não consegue ver o quadro maior e se magoa como se cada brincadeira fosse uma ofensa pessoal.  Lá a gente brinca sem preocupações.

Depois de À Beira do Abismo, já tem novos planos no teatro?
À Beira do Abismo me Cresceram Asas encerrou a carreira de casas cheias para eu entrar na novela em janeiro.  Há dois anos eu não tinha um final de semana, aproveitei pra tirar umas férias e viajar.

Como é a sua relação com a Bahia?
Vou passar as festas do final do ano na Bahia. Amo. Fico feliz de dançar na rua e rir sozinha quando estou aí. (Correio da Bahia)

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