BRASIL & MUNDO
Cidades alemãs geram biogás a partir de estações de tratamento de esgoto
Da descarga dos vasos sanitários, para as turbinas de geração de energia. Parece um caminho sem sentido relacionar o tratamento do esgotamento sanitário com a produção energética.
Essa já é uma realidade em cerca de mil cidades da Alemanha, que começa a ganhar corpo também no Brasil depois de ter aportado em países com Chile, EUA, África do Sul, Grécia e China, dentre outros países.
“Na Alemanha, mais de mil estações de tratamento de esgoto (ETE) têm aproveitamento de biogás, que é resultado do processo de tratamento no esgoto”, explica Victor Bustani Valente, coordenador de aproveitamento energético de águas residuais da GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), empresa do governo alemão para cooperação internacional que atua em 130 países no mundo.
O desafio do tratamento de esgoto é grande. Ele é composto por 99,9% de água e 0,1% de outros elementos. As estações de tratamento de esgoto têm o objetivo de devolver a água com qualidade e nelas há uma oportunidade de extração de energia, o chamado biogás ou gás metano.
A utilização do chamado biogás gerado nas estações de tratamento, segundo Valente, é uma oportunidade para diminuir os custos do tratamento do esgotamento sanitário. “O biogás é gerado normalmente no processo de tratamento do esgoto.
Mas, as estações não costumam aproveitar esse gás para que ele se transforme em energia, que pode ser usada no próprio consumo das ETEs. É uma boa economia, já que a eletricidade é o segundo maior componente do custo operacional das companhias de saneamento”, argumenta Valente.
Na Alemanha, as mil ETEs geram 1 Terawatt-hora (TWh) de energia, o que consegue suprir 50% da demanda de energia das estações. A meta alemã é conseguir 100% de eficiência energética com as estações de tratamento.
Projetos
No Brasil, há projetos na Bahia (ver abaixo), São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais sendo desenvolvidos. Além da economia do valor do tratamento do esgoto, de acordo com Valente, a utilização do biogás nas ETEs favorece a melhoria da qualidade no tratamento.
“Como, para gerar o uso do biogás, o esgoto inicial passa por mais processos, ele acaba sendo melhor tratado e tem uma redução da carga orgânica. A utilização do biogás nas ETEs ainda favorece uma necessidade da melhoria na mão de obra para trabalho nas estações. As empresas que investem nesse tipo de ação ainda conseguem melhoria da imagem da corporação diante da sociedade”, argumenta Valente.
Estação em Feira já atende a 20% do município
A gerente de eficiência energética do grupo Neoenergia, Ana Christina Mascarenhas, falou do aproveitamento do biogás produzido em estações de tratamento de esgoto a partir do exemplo da estação de Jacuípe II, em Feira de Santana.
Segundo ela, atualmente, a estação atende a 120 mil habitantes do município, o que corresponde a cerca de 20% da população total de Feira de Santana. “A nossa estimativa é que o novo sistema supra 80% da energia demandada”, revelou.
A estação consome 80MWh por mês, que representa um valor de R$ 26 mil que a Embasa paga à Coelba de energia. Com futuro desconto de 80%, cerca de R$ 20 mil serão economizados pela empresa de água e saneamento.
Ela explicou que a iniciativa é uma parceria da Coelba e Embasa, com o apoio da GIZ. “Temos também a Universidade Estadual de Feira de Santana nesse projeto, porque é uma forma de disseminar o conhecimento”, contou Ana.
Para ela, a falta de qualificação é o maior entrave que impede o reaproveitamento do esgoto. “Falta conhecimento técnico. E também a questão do custo é um problema, tudo que vem para cá fica mais caro. Mas cabe às empresas se unirem e ficarem atentas para viabilizar esses projetos. Porque não é possível que a gente fique jogando metano no meio ambiente, enquanto poderíamos jogar energia”, falou.
Ana Christina também argumentou que o leilão de reservas de biogás, feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), tem valores muito baixos. “Hoje, estamos pagando um valor muito alto pela geração térmica e estamos fazendo leilões com valores baixos”, disse.
Para ela, falta vontade política para incentivar a exploração do esgoto como energia. “Vamos tirar o ICMS de jogar energia na rede. Facilitar as importações desses equipamentos. Se o governo quisesse faríamos isso a um custo muito menor. Não é possível que a gente esteja queimando óleo diesel, enquanto poderíamos estar usando o esgoto”, completou Ana Christina Mascarenhas.
Embasa garante conclusão de obras na Bahia
A assessora de planejamento da Embasa Bartira Rondon garantiu, ontem, que as obras de saneamento básico da Bahia incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não estão atrasadas, como aparece nos relatórios do governo federal.
“O critério do governo federal é o de dar uma obra concluída quando todos os pagamentos são feitos”, disse. “Das 9 maiores obras do programa, 4 já estão concluídas e em operação e 2 estão em fase avançada”, completou.
O relatório do governo federal indica que nenhuma dessas intervenções está concluída, sendo que algumas delas tiveram início em 2007.
Falta de mão de obra qualificada dificulta planos
O chefe de gabinete do Crea-BA, Herbert Oliveira, apresentou o Programa Sanear Mais Bahia, termo de cooperação para a elaboração dos planos municipais de saneamento básico de 50 municípios do estado. Segundo ele, estima-se que os primeiros planos saiam em abril de 2015.
Prorrogado pela terceira vez, o prazo dado pelo governo federal para a entrega é 31 de dezembro de 2015. Quem não respeitar a data perde o acesso a recursos federais para a área.
“A maior dificuldade é a qualificação. Existe uma deficiência muito grande no estado para encontrar profissionais qualificados”, falou.
Engenheiro diz que PAC é improdutivo
Álvaro Menezes, da Associação Brasileira de Engenheiaria Sanitária e Ambiental (Abes), criticou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal durante o Fórum Agenda Bahia, ontem.
Para ele, o programa é improdutivo, apesar de ter disponibilizado e regularizado recursos para o setor de saneamento. “O programa torna-se improdutivo pois não prioriza o que é importante”, falou.
Ele também afirmou que as obras de saneamento avançariam mais rápido com um melhor relacionamento entre entes federativos, empresas públicas e privadas. (Correio da Bahia)
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