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Estudioso muçulmano do catolicismo questiona liderança pacífica de Jesus

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Reza Aslan, 41 anos, é um escritor iraniano radicado nos Estados Unidos desde a infância, especialista em temas religiosos e que vem provocando polêmica graças ao livro Zelota.RTEmagicC_jesus_.jpg

A Vida e a Época de Jesus de Nazaré (Editora Zahar/303 págs./impresso: R$ 37/e-book: R$ 25). O escritor já foi muçulmano, cristão, e converteu-se de novo ao Islã. Formado em Harvard e na Universidade da Califórnia, estuda Jesus há 20 anos e, para ele, a história da Bíblia é “apelativa e tentadora, sobretudo para os jovens”. Segundo Aslan, “Jesus não era um pregador tranquilo, um pregador pacífico, porque isso não se ajusta à história daquele tempo”.

Constrangimento
Por causa de sua origem e de suas posições, Aslan protagonizou, em julho, uma das entrevistas mais constrangedoras dos últimos tempos, de acordo com a imprensa americana.

Na entrevista de quase dez minutos na rede de TV Fox News, a âncora Laura Green – de grande audiência entre os cristãos fundamentalistas dos EUA – questionou duramente Aslan. Ela perguntou várias vezes se ele tinha direito, por ser muçulmano, de escrever sobre Jesus.

Perante o preconceito da jornalista, o autor argumentou que escreveu a obra como acadêmico com doutorado e especializações em histórias das religiões e com 20 anos de estudo das origens do cristianismo.

Diante do acontecimento, o livro, que já havia desbancado recordistas de vendas como a inglesa J.K. Rowling nas listas do New York Times e da Amazon, aumentou suas vendas em 50%. Tradicionalmente, livros sobre Jesus são (quase) garantia de polêmica e publicidade.

Dois Jesus
Jesus não é um só. Há o Jesus de Nazaré, homem pobre, trabalhador braçal, com todas as marcas do seu tempo, identificado com correntes contestadoras do domínio romano na Palestina: um ser político, de tendências revolucionárias, defensor da fé judaica.

E existe também Jesus, o Cristo, que depois de sua morte foi chamado de o “filho de Deus”, que está na base de uma nova religiosidade e fundou uma linguagem espiritual. Um Jesus da espada; um Jesus da paz.

Passados mais de 2 mil anos, o primeiro Jesus, um entre muitos messias que lutaram contra o império romano e morreram na cruz, se tornou apenas uma sombra, o grande mestre do cristianismo, que tem sua obra descolada das origens políticas para dar destaque à mensagem de natureza religiosa e universal.

O Jesus histórico é, principalmente, um judeu, com as paixões e as contradições de seu tempo. O Cristo que emerge dos evangelhos é um mestre espiritual pacífico, que foi afastado de seu nacionalismo judaico para ser identificado com questões que não são deste mundo.  Um Jesus que os romanos podiam aceitar sem temor de vingança pelo massacre de Jerusalém.

Essa é a tese central do livro de Aslan, acusado pelos seus críticos de atacar o cristianismo ao enxergar nele uma matriz revolucionária que mistura política e religião, o que seria característica de sua interpretação. Afinal, com alguma sinceridade, os muçulmanos sabem que história e religião não se separam.

A obra não é um ataque a Jesus, muito menos sofre de excesso de interpretação baseada em poucos fatos. Trata-se de um livro de história, erudito e muito legível, sustentado por uma ampla biografia.

Zelota
A busca da pluralidade de fontes se justifica, porque sabemos pouco sobre o Jesus histórico a partir de depoimentos de seus contemporâneos. Os primeiros testemunhos escritos sobre Jesus de Nazaré vêm das epístolas de Paulo, escritas pelo menos 20 anos depois da morte de Jesus.

Em seguida vêm os evangelhos, que, com exceção de Lucas, nem sequer foram escritos pela mesma pessoa que os nomeia (um caso típico de obras pseudoepigráficas, comuns no mundo antigo) e datam de décadas depois da morte de Jesus.

Em outras palavras, os evangelhos não foram escritos por testemunhas oculares das palavras e ações de seu personagem central: são obras de uma comunidade de fé. Não são fatos, são reconstruções teológicas. Ou seja, eles nos dizem sobre Jesus, o Cristo, mas nada esclarecem sobre Jesus, o homem.

O título do interessante livro de Reza Aslan já é uma pista. Zelota vem de zelo, uma inspiração para movimentos típicos dos judeus contrários ao domínio romano na região – e Jesus de Nazaré teria sido um deles.

Espécie de quarta filosofia, ao lado dos filisteus, saduceus e essênios, os zelotas compunham um partido que tinha compromisso inabalável com a libertação de Israel do jugo romano e com a afirmação do Deus único dos judeus. No entanto, o que era heroísmo para os judeus era crime para os romanos.

Eram comuns os profetas que se insurgiam contra as ordens de Roma – e eles eram geralmente presos, torturados e mortos de forma violenta, decapitados ou crucificados.

Como explica o escritor Reza Aslan, a placa na cruz de Jesus, com os dizeres “Rei dos Judeus”, não era um sarcasmo, mas uma sinalização pelo qual ele estava sendo crucificado. O crime de Jesus foi buscar o poder político. (Correio da Bahia)

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