A Polícia Civil divulgou um vídeo no qual o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 26 anos, apontado como o autor de 39 mortes, em Goiânia, indica o local em que enterrou o corpo de sua primeira vítima, o estudante Diego Martins Mendes, 16, que desapareceu em novembro de 2011. Segundo o delegado responsável pelo caso, Douglas Pedrosa, o suspeito abordou o menor em um terminal de ônibus da capital e o levou até um terreno baldio no Setor Negrão de Lima, onde cometeu o homicídio.
“Tiago disse que abordou o menor no Terminal Praça da Bíblia, no Setor Leste Universitário, com o pretexto de que os dois iriam manter relações sexuais. No entanto, ao chegar ao local do crime, ele foi tomado ‘pela raiva’ e acabou matando o garoto. Mas, na verdade, não tenho dúvidas de que a intenção dele desde o início já era o assassinato”, afirmou o delegado ao G1.
Os policiais fizeram buscas pelo terreno, porém, segundo o delegado, o local passou por muitas mudanças ao longo dos anos e o corpo não foi encontrado. “Tivemos a informação de que passaram um trator na área e retiraram terra para aterrar um córrego que fica nas proximidades. Com isso, os restos mortais devem ter ido junto”, relatou Pedrosa.
Diego desapareceu no dia 9 de novembro de 2011, quando, de acordo com os pais relataram na época, saiu de casa, no Setor Rio das Pedras, em Aparecida de Goiânia, para se inscrever ao sorteio de uma vaga no Colégio Militar Hugo de Carvalho Ramos, no Jardim Goiás, em Goiânia.
O jovem saiu de casa por volta de 9 horas da manhã e, por volta das 11 horas, telefonou para a mãe de um telefone público para avisar que tinha feito a inscrição. Depois, ele iria pegar o ônibus da linha 021, sentido Praça da Bíblia, e em seguida o 580, que o levaria até Aparecida de Goiânia, mas nunca chegou.
Na ocasião, os pais do menino chegaram a dizer que achavam que o filho tinha se envolvido com alguém que conheceu pela internet, já que a maior diversão do estudante era ficar conversando com amigos por redes sociais.
O caso era investigado pela polícia desde então, mas, só agora, com as confissões feitas pelo vigilante, foi descoberto o que aconteceu com a vítima. “Teremos muito trabalho para localizar algum resto mortal de Diego, mas vamos tentar, pois assim poderemos concluir o caso”, ressaltou o delegado.
Crimes
Tiago confessou em depoimento à polícia 39 mortes, que teriam sido cometidas desde 2011. Entre elas, além da de Diego, estão 15 dos 17 crimes investigados inicialmente por uma força-tarefa da Polícia Civil, que apura uma série de homicídios contra mulheres neste ano. As outras vítimas são gays e moradores de rua.
Dois dos crimes apurados pela força-tarefa não foram assumidos pelo vigilante: a morte de Danielly Garmus da Silva, 23 anos, e a tentativa de homicídio de Daiane Ferreira de Morais, 18. Entretanto, ele confessou outras duas mortes de mulheres que eram apurados de forma independente e, após a confissão, a polícia os incluiu nas investigações. São os homicídios de Arlete dos Anjos Carvalho, 16, e de Edimila Ferreira Borges, 18.
Segundo os delegados que interrogaram o vigilante, Tiago tinha o costume de assistir aos noticiários no dia seguinte aos seus crimes para ter certeza se a vítima tinha morrido e qual o nome da pessoa. No entanto, ele diz que sentia remorso ao ver as reportagens. “Feliz não. Era um sentimento de arrependimento”.
A polícia também divulgou um vídeo no qual o vigilante explica onde conseguiu a arma usada nos crimes. Questionado pelo delegado sobre o número de revólveres que ele possuía, o suspeito respondeu que “só uma”. “Que eu furtei em uma empresa onde trabalhei”, disse Tiago.
Em entrevista na tarde de sexta-feira (17), o vigilante afirmou que gostaria de pedir desculpas à mãe dele e às famílias das vítimas pelos crimes que cometeu. Ele não respondeu se acredita ser doente mental, mas falou em “arrependimento” e afirmou querer um tratamento médico para se livrar do que ele define como “sentimento de raiva”.
De acordo com o defensor do vigilante, Thiago Húascar, seu cliente comentou que sofreu abusos sexuais durante a infância. O autor seria um vizinho. Além disso, o suspeito também afirma ter sofrido bullying na escola. Essas recordações trariam o tal sentimento a ele, motivando seus crimes. Para ele, o jovem é “insano” e precisa de tratamento.
Força-tarefa
De acordo com o delegado Alexandre Bruno Barros, Tiago revelou que interrompeu a sequência de mortes após o homicídio de Ana Lídia Gomes, 14 anos, no último 2 de agosto, baleada em um ponto de ônibus no Setor Conjunto Morada Nova, porque teve medo de ser pego.“Ele disse que parou porque ficou com medo de ser pego, por causa da força-tarefa. Depois voltou no último domingo [12] porque não aguentou mais, tinha que extravasar a raiva”, disse o delegado.
Mesmo correndo o risco de ser capturado, o vigilante disse que, ao ver o anúncio da criação, no dia 4 de agosto, da equipe especial da Polícia Civil para investigar a série de mortes de mulheres, sabia que seria uma questão de tempo até ser preso.
Apesar de no início das investigações ter afirmado ter convicção de não se tratar de um único autor das mortes de mulheres, a Polícia Civil diz agora que há cerca de um mês já tinha elementos suficientes que apontavam o vigilante como o assassino nos crimes investigados pela força-tarefa.
Na quinta-feira (16), a Polícia Técnico-Científica afirmou que os resultados de exames de balística da arma apreendida com Thiago coincidiram com os disparos efetuados em seis homicídios na capital.
Prisão
De acordo com o superintendente de polícia judiciária de Goiás, delegado Deusny Aparecido, antes de ser capturado, a polícia não tinha o nome do suspeito, mas já sabia de todas as suas características físicas.
Assim, na sexta-feira (10), foi emitido um mandado de prisão temporária para um “homem branco, com idade aproximada de 25 anos, aproximadamente 1,87 metro de altura, complição física atlética, sem barba ou bigode, com pelos no peito, rosto afilado, cabelos pretos, curtos e lisos e sobrancelhas grossas, que normalmente se veste bem”. O mandado também descreve que o suspeito usava capacete e motocicleta de cor preta com placa adulterada.
O vigilante foi preso na Avenida Castelo Branco, na terça-feira (14). Em seguida, ele foi encaminhado à Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), onde prestou depoimento e, de acordo com o delegado, confessou os crimes.
Mortes de mulheres
O primeiro crime da série de assassinatos contra mulheres em Goiânia ocorreu em 18 de janeiro deste ano, quando Bárbara Luiza Ribeiro Costa, de 14 anos, foi executada por um motociclista no Setor Lorena Park. A morte mais recente foi a de Ana Lídia Gomes. Um motociclista passou pelo local e disparou contra a garota, que não resistiu aos ferimentos.
De acordo com a polícia, dentre os demais crimes cometidos pelo homem, estão mortes de moradores de rua e homossexuais. Os outros homicídios de mulheres não assumidos pelo homem, segundo a Polícia Civil, continuarão sendo investigados.
No ano passado, o Ministério Público Estadual ofereceu denúncia contra o vigilante por furtar uma placa de uma motocicleta no estacionamento de um supermercado de Goiânia. Imagens de câmeras de segurança mostram ele cometendo o crime. Também no ano passado, ele foi preso em flagrante em uma motocicleta com placa roubada, mas foi solto. O caso foi registrado no 5º Distrito Policial.
Segundo a Polícia Civil, o jovem foi identificado em imagens registradas por câmeras de segurança no último domingo (12), próximo à lanchonete em que uma mulher foi agredida por um motociclista. O caso foi incluído na força-tarefa. Segundo testemunhas, o motociclista de capacete vermelho atirou na jovem, mas a arma falhou. Então, ele deu um chute na boca dela.
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